CONTEMPLEM!!! A QUEDA DE STAR WARS - OS FUNDAMENTOS DE REY
|
Início do Fim |
Está na hora de voltarmos para o primeiros filme e analisarmos Rey, uma das principais peças para o desmoronar da nova trilogia. O foco da crítica será a Rey do primeiro e do segundo filme. Será feito uma postagem específica para o terceiro filme. Então, vamos nessa.
Uma das principais críticas a Rey na internet é que ela é um personagem Mary Sue, ou seja, tem tudo de mãos beijadas. Isso é verdade, mas podemos trabalhar melhor essa crítica expondo alguns pontos.
Em geral, ao se criar uma história se desenvolvem os personagens*. Os personagens amadurecem, superam desafios, se tornam mais fortes, etc. Isso causa o apelo para as pessoas gostarem dos mesmos. Esse conjunto de transformações se chama de arco de personagem. Star Wars, tradicionalmente faz esse desenvolvimento através da jornada do herói e Rey não é diferente. No entanto, o arco de Rey simplesmente não funciona e não funciona pois seus fundamentos são ruins, ela está quebrada em sua base.
Aplicando uma matriz SWOT em Rey identificamos a falha de seus fundamentos.
Primeiro, Rey possui todas as forças:
- Vence combate corpo à corpo contra oponentes maiores.
- Pilota naves com excelência.
- Faz a manutenção técnica das naves.
- Opera mecanismo destravando portas.
- Utiliza blasters com excelência tendo tocado na arma pela primeira vez.
- Utiliza o sabre de luz com excelência derrotando um espadachim treinado tendo tocado na arma pela primeira vez.
- Utiliza a força para empurrar e puxar coisas sem nunca ter treinado.
- Resiste ao controle mental sem nunca ter treinado.
- Utiliza o controle mental sem nunca ter treinado.
- É sempre respeitada por todos os mocinhos.
- É sempre generosa e bondosa.
- Cura ferimentos mortais (mas isso é do último filme :P).
Segundo, Rey não possui nenhuma fraqueza (até o último filme tentar consertar isso).
Se Rey possui todas as forças e nenhuma fraqueza, é praticamente impossível lhe oferecer adversidade. É a falta de adversidade que faz com que a fórmula da jornada do herói da protagonista falhe para o público. Inclusive, é muito difícil para o espectador identificar as etapas da jornada seja em cada um dos filmes, seja na trilogia como um todo.
Vejamos a evolução de Luke Skywalker. Em Nova Esperança, ele é um jovem ingênuo. No Império Contra-Ataca, ele é um jovem, treinado, impetuoso ou mesmo arrogante por desafiar Darth Vader. No Retorno de Jedi já vemos um Luke sábio, capaz de mostrar compaixão e enfrentar as tentações do lado sombrio. Quanto a Rey... ela decidiu ser parte da rebelião e treinou um pouco.
Agora vamos para o último quadrante da matriz SWOT, as oportunidades, que serão entendidos no nosso contexto como as motivações do personagem. No primeiro filme, a motivação de Rey é encontrar seus pais e descobrir suas origens. No segundo filme, a mensagem é que a origem da personagem não importa. No fechamento da trilogia, Rey se auto-proclama Skywalker. Toda essa transformação ocorre sem um pingo de organicidade, é um roteiro contradizendo o outro. O resultado final é uma confusão só e Rey parece ser guiada pelos poderes do protagonismo.
|
Não dá! |
O Resultado Final
Rey possui toda a força, nenhuma fraqueza, nenhuma adversidade e uma motivação confusa. Com esses fundamentos se torna quase impossível criar um bom arco de personagem para ela. Além disso, a combinação dessas características faz com que a jornada do herói não funcione. Sem ameaças significativas a transformação não se justifica, a personagem se torna plana e não gera identificação com o público. Em adição, o excesso de poder faz com que a personagem pareça arrogante, somado com os chiliques panfletários da obra, se torna mais fácil para o público desenvolver repúdio da protagonista.
Quando assisto um filme costumo pensar no que eu poderia mudar pra torná-lo melhor. Filmes nota 10 são aqueles que eu reconheço que não poderia mudar nada ou que sequer teria capacidade de pensá-los. Já a nova trilogia de Star Wars, foi a primeira obra que julgo ser melhor descartar. É uma obra infeliz nos seus alicerces. O próximo post da série finalmente irei abordar o último filme da trilogia.
* Essa não é uma regra absoluta. Existem ótimas histórias que os personagens começam e terminam sem desenvolvimento, um exemplo é Sherlock Holmes, no entanto, a atenção do espectador é capturada pela trama, o que torna esse tipo de narrativa ainda mais complexa e de difícil sucesso.