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SONHO E MÁGICA!!! Venha incauto aventureiro... feche os olhos... adormeça... CONTEMPLE através do sonho os segredos de Amalgamos.
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domingo, 10 de abril de 2022

Os Tipos de Regras do RPG


 CONTEMPLEM!!! OS TIPOS DE REGRA!!!
Mais um tratado

Esse tratado visa orientar jogadores de primeira viagem que não possuem contato com outros sistemas e por vezes pensam alternativas que já foram testadas pela história. 

As regras do RPG podem ser definidas em 3 tipos:

- Regras Básicas: O esqueleto do próprio jogo, elas proporcionam o funcionamento geral do jogo. Se as regras básicas forem ruins, o sistema simplesmente não funciona. Em Amalgamos-RPG as regras básicas são derivadas do Sistema D20 o ápice da 3ª edição. Resumidamente, o Sistema D20 é o conjunto de regras que propõe jogar 1d20 para superar uma CD.

- Regras Distintas: O crunch se refere a parte das regras brutas do RPG, veja mais aqui. O crunch distinto são todas as regras de personalização excluindo as regras básicas. Ele inclui as habilidades de classes e também os talentos opcionais de cada classe e é capaz de causar diversos problemas.
  • Seu excesso deixa a leitura de regras insossa ou apaga o fluff (D&D4).
  • Tira a atenção do cenário e do lúdico para o mecânico (D&D3).
  • Gera combos que deixa o sistema mais complexo (D&D3).
  • Limitam personagens a regras, quando a regra não é um bônus ou aprimoramento. (ex: para usar habilidades como trespassar ou lutar com 2 armas era necessário talento no D&D3, um personagem sem o talento não conseguiria fazer a ação efetivamente).
  • Limita a imaginação. (ex: os arquétipos de D&D5, o bruxo tem seus patronos, o paladino seus juramentos, todos eles oferecem regras com benefícios, mas também um fluff que por vezes não é genérico o suficiente para o cenário. Outro exemplo, seria os vários poderes de D&D4 como "golpe da fenix escarlate" e coisas parecidas).

- Regras Narrativas: Mestre e jogadores possuem um contrato narrativo. O mestre tem direito de inventar regras do nada ou simplesmente forçar uma ação referente a um aspecto narrativo. Costumeiramente, isso é chamado de regras da casa ou house rules. Se essas regras não são formalizadas, pode gerar o sentimento de arbitrariedade.  Eis alguns exemplos de Amalgamos-RPG:
  • Improvisação de Perda de Habilidade Permanente (o personagem leva um ataque que gera uma sequela permanente - ocorre quando o personagem sofre um ataque imobilizado ou sem meios de se defender). 
  • Falha Crítica (após 1 natural, mestre verifica se houve alguma tragédia rolando 1d12).
  • Recuperação de PPs por atividades da classe (depende do julgamento do mestre).
  • Testes de Maldade (regra narrativa, a tabela de Amalgamos-RPG elimina boa parte da arbitrariedade - outros sistemas o mestre poderia determinar a mudança da tendência arbitrariamente).

sexta-feira, 25 de março de 2022

Tratado contra a Pobreza de Espírito

 
CONTEMPLEM!!! 
O TRATADO CONTRA A POBREZA DE ESPÍRITO!!!
Tratado extra

Essa postagem se originou das minhas reflexões provenientes das críticas de Star Wars e Rings of Power. Ela não passa da identificação de um defeito, que vejo não apenas assolando o cinema, mas também os quadrinhos e os livros de RPG. O defeito, como o próprio título diz é a pobreza de espírito. 

No contexto bíblico, a pobreza de espírito é uma bem-aventurança, uma pessoa pobre de espírito é alguém que reconhece sua miséria espiritual e busca a Deus, é uma pessoa que nunca está satisfeita com sua vida espiritual e por isso está sempre buscando acumular tesouros celestiais. Eles estão destinados ao Reino dos Céus! Aleluia, Amém! Esta de fato é uma qualidade positiva.

No entanto, este não é um tratado teológico, a pobreza de espírito aqui referida é mundana. Essa pobreza de espírito se trata de uma aridez interna, uma incapacidade de transcendência e elevação, uma inaptidão de reconhecer algo como glorioso... consequentemente, isso gera covardia, medo de se doar e sacrificar por algo maior, incapacidade de heroísmo e finalmente, a incompreensão do que é épico. 

Hoje, pessoas pobres de espírito ocupam importantes papeis na produção de arte fantástica, o resultado está sendo a deterioração de várias franquias. Elas não entendem o que é épico e assim não conseguem reproduzi-lo. A forma como Last Jedi se contorceu de todas as maneiras, mas foi incapaz de gerar algo parecido com o heroísmo é um bom exemplo do dano artístico causado por esse defeito. Outro exemplo mais estético, são as 2 interpretações do Anel dos Nibelungos abaixo. Independente dos recursos, parece que existe um esforço da primeira ópera para manter o espírito do espectador no chão. Já na segunda, se percebe um empenho de tornar a interpretação épica.
   
Ninfas no divã folheando revistas...

Um espetáculo pra assistir

Com esses exemplos, dá pra encerrar o caso.

quarta-feira, 23 de março de 2022

Nota de Repúdio as Comunidades Tolkienianas

 
CONTEMPLEM!!!
A NOTA DE REPÚDIO AS COMUNIDADES TOLKIENIANAS!!!
Contra Nota de Repúdio

Essa postagem é uma resposta (apesar de atrasada) ao posicionamento infantil de várias comunidades tolkienianas brasileiras. Este é um blog que não se isenta e que age guiado por suas próprias convicções. A nova série da Amazon, Rings of Power, está sofrendo uma série de críticas, entre elas, a cor da pele dos personagens. Essa sem dúvida é a crítica mais polêmica e mais uma vez (como foi feito em Star Wars) fãs contrários a isso, de forma geral, estão sendo rotulados de racistas e execrados. É lamentável que várias comunidades tolkienianas brasileiras tenham aceitado e corroborado essa atitude. 

Em fevereiro, as comunidades tolkienianas brasileiras lançaram em conjunto a seguinte nota de repúdio:

Registramos o nosso repúdio aos posicionamentos preconceituosos, sobretudo em relação à cor de pele de alguns atores do elenco da série O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder, do Prime Vídeo.

Muitos desses comentários, publicados em diversas redes sociais, não constituem simples liberdade de expressão ou posicionamento crítico. Em vez disso, são discursos meramente passionais, carregados de visões subjetivas e preconceituosas, destinadas aos atores e às atrizes. As características físicas, étnicas, sociais e de gênero não prejudicam a fidedignidade de uma adaptação.

As obras de Tolkien transmitem mensagens de amizade, companheirismo, fidelidade, amor ao próximo, compaixão, inclusive a união entre povos diversos em prol de um bem comum. Lamentamos falta de sensibilidade necessária para compreender e respeitar tais valores e mensagens tão bem transmitidos pelo Professor.

Nós, enquanto Leitores, Colecionadores, Produtores de conteúdo, Membros de Tocas, Artistas, Escritores, Tradutores e admiradores do trabalho de J.R.R. Tolkien repudiamos quaisquer ideologias que, de maneira racista e preconceituosa, retratam negativamente grupos sociais, sejam eles quais forem.

Essa nota é injusta com os críticos, é falsa em vários pontos, vai contra o espírito da obra e se mostra aliada com os detratores de Tolkien. Ela merece uma crítica e uma resposta adequada. Segue a análise dos principais parágrafos da nota.

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Registramos o nosso repúdio aos posicionamentos preconceituosos, sobretudo em relação à cor de pele de alguns atores do elenco da série O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder, do Prime Vídeo.

1. Racismo é inaceitável 
Em primeiro lugar, racismo é algo abjeto, comentários racistas devem ser banidos e as pessoas que o fazem devem ser punidas. Não existe atenuante para isso.

2. Acusação falsa de racismo é inaceitável
Infelizmente, a cultura nerd está infestada com guerreiros sociais, lacradores e panfletários, que não gostam de fato das obras, são contra discussões e desejam em primeiro lugar propagar suas agendas. Essas pessoas são rápidas de acusar os outros de racistas, tóxicos, elitistas. Ninguém é racista por fazer críticas e não é possível declarar alguém como racista velado, pois não é possível ler corações. Esses rotuladores aumentam o espectro do problema misturando sensatos com grosseiros. Pior, eles fazem um desserviço pra comunidade tentando expulsar qualquer um que vá contra suas agendas. Canceladores devem ser desmascarados e evitados.

3. Polêmica internacional, resposta brasileira
Os ataques aos atores negros da nova série foi um movimento principalmente internacional. A maior parte dos comentários dos fãs de Tolkien brasileiros que discordavam do elenco se expressaram de forma não ofensiva. 

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Muitos desses comentários, publicados em diversas redes sociais, não constituem simples liberdade de expressão ou posicionamento crítico. Em vez disso, são discursos meramente passionais, carregados de visões subjetivas e preconceituosas, destinadas aos atores e às atrizes. As características físicas, étnicas, sociais e de gênero não prejudicam a fidedignidade de uma adaptação.
 
4. Vandalismo a obra de Tolkien possui reação esperada e alimenta o racismo
Independente das controvérsias sobre o lore de Tolkien, existe um imaginário comum sobre sua obra criado durante dezenas de anos. A fuga desse imaginário pode ser vista como um erro, desrespeito ou uma violência. As várias vandalizações panfletárias em outros trabalhos, faz com que seja mais correto interpretar essas mudanças como violência. É claro que tais atos estão sujeitos a críticas. 

É estupidez acreditar que a alteração de uma obra tão consagrada como a de Tolkien é capaz de passar sem reação. Muitas pessoas se sentirão insatisfeitas e usarão seus recursos para expressar sua indignação. Por vezes, essas pessoas carecem de recursos morais e intelectuais e sua única arma passa a ser o fel de seu fígado.  

Assim, o sequestro da obra pra fins panfletários acaba por alimentar o próprio racismo na sociedade. É falta de sabedoria não entender a extensão de seus atos e não se responsabilizar por eles.

5. Posicionamento injusto e infantil
As comunidades brasileiras fizeram certo ao condenar atos de racismo. No entanto, ao deixar a neutralidade, ao se posicionar em favor da série, inclusive contra a maioria dos fãs e sem explicar todo o contexto envolvido como foi feito nos pontos anteriores, elas estão implicando que os fãs brasileiros divergentes são preconceituosos ou mesmo movidos ideologicamente (como explicitado no último parágrafo da nota). 

6. Dependendo das características, fidedignidade de uma adaptação é prejudicada SIM
É de se espantar com a última frase do parágrafo em destaque: 'As características físicas, étnicas, sociais e de gênero não prejudicam a fidedignidade de uma adaptação.' É óbvio que essa afirmação está incorreta, ela não é apenas boba, como é um atestado de incompetência para as comunidades tolkienianas. Como comunidades que poderiam ser consideradas sérias aprovam essa declaração?  

A fidedignidade das características do personagem contribui para 2 pontos importantes: (1) suspensão de descrença, (2) estética da obra. Quem se propõem a apreciar um trabalho artístico não pode ignorar esses pontos básicos.  

Mas a afirmação da nota de repúdio é falsa ainda de forma mais sutil. Ela desvia a atenção do problema ser uma modificação na essência da obra. Na ópera e no teatro, onde os recursos são mais escassos e a imaginação mais necessária é tolerável as discrepâncias com o original. Otelo poderia ser interpretado por um branco. No entanto, todo o público saberia que o personagem é negro. Além do mais, essa peça poderia ser criticada, visto que tal caracterização quebra a suspenção de descrença prejudica a estética e bastaria o ator de Otelo utilizar maquiagem para exercer melhor seu papel. Mas, seria pior, inadmissível, Otelo ser considerado branco e não mouro dentro do próprio cenário, isso não é uma questão de cor de pele é um próprio ataque ao trabalho de Shakespeare. O elfo negro não vai fingir ser branco (mesmo se fosse valeria críticas pela má utilização de recursos), sua cor será considerada normal no cenário e muitos consideram isso ofensivo a essência da obra e possuem o direito de criticar. 

É importante ressaltar que adaptações não dão o direito de modificar a essência da obra. Existem adaptações que modificam uma obra pra se adequar a uma mídia. Exemplo: A remoção de Tom Bombadil da trilogia cinematográfica do Senhor dos Anéis. Existem adaptações que fazem uso de licença poética para adicionar ou modificar algo. Exemplo, o romance anão-elfo na trilogia cinematográfica do Hobbit. Ambas os tipos de adaptações estão sujeitos a crítica e quanto mais consagrada for a obra adaptada, mais temerário é uma alteração. Pior, é o segundo tipo de adaptação, que por vezes, são feitas por pura arrogância e quando modificam a essência da obra se tornam verdadeiras aberrações, como o romance supracitado.

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As obras de Tolkien transmitem mensagens de amizade, companheirismo, fidelidade, amor ao próximo, compaixão, inclusive a união entre povos diversos em prol de um bem comum. Lamentamos falta de sensibilidade necessária para compreender e respeitar tais valores e mensagens tão bem transmitidos pelo Professor.

7. Palavras bonitas, mas despreparadas
O trabalho de Tolkien de fato é valoroso. No entanto, as palavras das comunidades são incongruentes com o pensamento das especialistas responsáveis pela adaptação que eles estão defendendo. Segundo essas especialistas, apesar de toda a mensagem de companheirismo de Tolkien, sua obra reproduz um 'racismo velado', a medida que a face do mal na terra-média é não branco, endorsando assim, uma visão de mundo nociva. Toda essa argumentação pode ser vista nesse Link. O argumento está errado e nos comentários desse artigo, um verdadeiro especialista os refuta. O fato da nota de repúdio está alheia ao perfil dos produtores da série demonstra o quão despreparadas estão as comunidades para emitir suas opiniões.
 
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Nós, enquanto Leitores, Colecionadores, Produtores de conteúdo, Membros de Tocas, Artistas, Escritores, Tradutores e admiradores do trabalho de J.R.R. Tolkien repudiamos quaisquer ideologias que, de maneira racista e preconceituosa, retratam negativamente grupos sociais, sejam eles quais forem.

8. Cegueira
Aparentemente os leitores, colecionadores, produtores de conteúdo, etc, dessas comunidades são também cegos, incapazes de analisar o que está ocorrendo. Não existe ideologia racista por trás das críticas a Rings of Power, apenas fãs insatisfeitos. Fãs de todas as cores, etnias e grupos sociais. 

Existe sim uma ideologia por traz do sequestro da obra de Tolkien. Uma ideologia que está vandalizando o trabalho do professor com panfletagem progressista explícita que vai contra o espírito dos livros e contra a estética do próprio autor que sempre se preocupou de não deixar transparecer seus pensamentos políticos, senão dentro da própria história como solução dos conflitos.

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Nota de Repúdio

Deixo registrada minha preocupação com os rumos da série Rings of Power da Amazon. A descaracterização de personagens por motivos pessoais ou comerciais é censurável. É duplamente censurável por motivos ideológicos. É triplamente censurável numa obra consagrada como a de Tolkien. É infinitamente censurável a medida que vai contra a estética do próprio autor que sempre se preocupou de não deixar transparecer seus pensamentos políticos, senão dentro da própria história como solução dos conflitos. Caso meus medos sejam concretizados urjo a um boicote do programa.

Deixo meu repúdio contra toda e qualquer tentativa de atualizar e modificar a essência da obra de Tolkien. É necessário sabedoria para diferenciar criação de revisão no contexto de uma adaptação. A criação é a construção de algo novo com base dos parâmetros e valores já estabelecidos pela obra original. A revisão consiste na atualização do próprio núcleo da obra.

Repudio também todo e qualquer ataque verdadeiramente racista sofrido pelos atores e deixo minha solidariedade a eles. Assim como repudio os 'canceladores', de qualquer lado da polêmica que incapazes de argumentar se satisfazem em rotular e excluir pessoas.

Meu último repúdio vai para as comunidades tolkienianas signatárias da nota supracitada pelo: (1) infantilismo no modo de se posicionar, implicando que o fã crítico é racista ou guiado por ideologia e incentivando reações animosas por parte desses fãs, (2) pela incompetência ao afirmar que características físicas não prejudicam a fidedignidade de uma obra, (3) pela malícia ao sugerir que as críticas se deram não por alteração da essência da obra, mas sim, por intolerância racial, (4) pelo despreparo por si posicionarem a favor de detratores da obra original, (5) pela covardia de não defenderem a obra original. Quiçá, (6) pela malícia novamente, por escolherem a panfletagem ao invés da obra original e (7) pela ganância por esperarem alguma retribuição material.

Por fim, deixo as palavras do próprio Tolkien e do seu filho Christopher.

“O mal não pode criar nada novo, ele apenas pode corromper e arruinar o que as forças do bem inventaram ou criaram.” – J.R.R.Tolkien.
“Tolkien se tornou um monstro, devorado por sua própria popularidade e absorvido pelo absurdo do nosso tempo. O abismo entre a beleza e a seriedade do trabalho e o que se tornou é demais para mim. A comercialização reduziu a nada o impacto estético e filosófico da criação. Para mim existe apenas uma solução: me afastar.” – Christopher Tolkien.

sábado, 5 de março de 2022

Os Bastidores dos Pequeninos

 
CONTEMPLEM!!! OS BASTIDORES DOS PEQUENINOS!!!
Um belo design

Nesse tópico irei expor e listar as referências utilizada no desenvolvimento da raça dos pequeninos. Assim também de suas "sub-raças". Talvez isso sirva de inspiração para jogadores entusiastas do povo pequeno. 

Os pequeninos é a raça fictícia para o meu cenário inspirada nos hobbits de Tolkien, nas raças gnomo e halfling de RPGs de fantasia em geral, Em algumas raças fantásticas de video-games e quadrinhos e também nos seres pequenos do folclore europeu.

O padrão

Tolkien, o mestre máximo da fantasia, cria o hobbit, a base de todo halfling moderno. O hobbit é um humanoide pequeno de pés peludos e muito preocupado com bem-estar. Um conceito que não precisa de apresentação. Infelizmente não se pode usar o nome hobbit indiscriminadamente para não despertar a ira do Tolkien Estate, embora pode ser feito coisas bens piores com os personagens da obra do mestre.

Originalmente, Chainmail e OD&D  (conheça a história das edições nesse Sonho) usaram o nome hobbit pra descrever a raça do povo pequeno. Mas devido a problemas autorais com o Tolkien Estate, o nome hobbit foi substituído por halfling pela TSR, de modo que a partir da 5ª impressão de Chainmail e da 6ª impressão de OD&D não vemos mais o nome de hobbits na obra.

Bem debochado

Nos primórdios do D&D, os halflings eram retratados de forma bastante caricata, muitas vezes representada como alívio cômico. Eles (assim como gnomos) nunca tiveram muito espaço em D&D, sendo apreciados apenas por uma minoria de jogadores. Isso ocorre porque a maior parte dos jogos são do tipo hack and slash, não combinando com o tom original da raça proposto por Tolkien.

Humanos pequenos

Com as novelas de fantasia de rpg e a preferência do público por personagens mais reais e épicos, a aparência dos halflings foi modificada para humanos pequenos. Isso foi consolidado na 3ª e na 4ª edições. Um dos efeitos negativos dessa decisão de design é a redução do maravilhamento da raça.

Ideia inusitada

D&D4, traz uma adição interessante para o fluff da espécie. Como tradicionalmente, os homens possuem os campos, os elfos, as florestas e anões, as montanhas, D&D4 se propõe a imaginar um lugar para os halflings. As solução foi inusitada... deram aos halflings o domínio dos rios, transformando a raça em navegadores e brejeiros. A ideia não é de toda ruim. É possível imaginar caravanas de jangadas tripuladas por halflings e brejeiros halflings balançando-se em cadeiras de balanço em chacras no meio de pântanos cercados por jacarés... De qualquer forma, o conceito foge bastante do original tolkeniano visto  que hobbits não são lá chegados a água. Isso mostra o quão longe foi a imaginação da turma da 4ª edição.

Falha total!

Após as pesadas críticas em cima da 4ª edição, D&D5 tenta voltar as origens trazendo de volta a aparência clássica dos halflings. Foi um grande acerto da 5ª edição, no entanto, em toda a história do D&D, nunca houve ilustração pior que a do halfling icônico do PHB. Além de carecer de charme, ela é carregada de anacronismo removendo qualquer indício de encantamento e ainda está na importante função de ilustração destaque da raça. 

Ainda no escopo de D&D, temos halflings alternativos criados para o cenário de Dragonlance. Em Dragonlance, os halflings, chamados de Kender são inspirados nas regras de BD&D, onde classe e raça são fundidas e assim todo personagem halfling é também um ladino. Devido a isso, os kender são naturalmente cleptomaníacos e ausentes de medo, o que os tornam companheiros bastantes chatos também. 

Que horror!

Outro variante interessante que merece destaque são os halfling de Atlas do cenário Dark Sun. Halflings canibais que acertam por ser uma deturpação do conceito original dos hobbits de Tolkien que tanto apreciam a comida.

Como mencionado anteriormente, halflings não funcionam bem em D&D. A prova disso, é a quantidade de tentativas de encaixar a raça no cenário, seja halflings marinheiros, cleptomaníacos, canibais ou mesmo nômades domadores de dinossauros de Ebarron. Se o problema um dia será solucionado é impossível prever. É mais provável o halfling se transformar em uma raça secundária, reduzido a uma citação no PHB.

Exageros de Warhammer

Saindo do D&D, os halflings de Warhammer são feios e indolentes e de péssimo gosto, o pior conceito entre todas as raças da franquia. No entanto, Warhammer ainda oferece boas ideias, como a descrição dos pés da raça e a ênfase na culinária desse povo. 

Além de halflings, temos os gnomos. A versão do gnomo clássico presente no folclore europeu está um tanto desgastada por suas extrapolações. O gnomo de D&D5 tem a bizarra capacidade de criar constructos de corda. Já em WoW temos uma extrapolação ainda maior do gnomo mecânico steampunk. Esses exageros são difíceis de encaixar sem quebrar a suspensão de descrença ou adaptar todo o cenário em prol deles.

Bem elegante

Outra interpretação dos gnomos muito mais saborosa é a dada por D&D4 e Pathfinder. D&D4 traz gnomos mais voltados a natureza, enquanto Pathfinder traz a melhor concepção de gnomos do RPG. Gnomos com características feéricas com ligação com o mundo das fadas que desbotam ao perderem o gosto pela vida. 

Elfquest

Entre outras raças pequenas famosas na cultura pop temos os kokiri de Legends of Zeldas e os elfos de Elfquest, ambas ligadas a natureza. Um dos grandes méritos de Elfquest é a capacidade de descrever diferentes sub-raças de elfos vivendo em conjunto. Um ativo importante pra qualquer cenário.

Estranhamento clássico

Por fim, devemos lembrar que conceitos próximos aos halflings, existem de forma anterior a Tolkien no folclore, lendas, mitos e mesmo literatura europeia, senão mundial. É necessário tentar preservar o estranhamento que essas criaturinhas são capazes de causar.

sábado, 26 de fevereiro de 2022

Em Defesa da Fantasia

 
CONTEMPLEM!!! EM DEFESA DA FANTASIA!!!
Infelizmente, um tratado necessário

Eu tinha intenção de fazer esse tópico para finalizar a série de postagens sobre Star Wars. No entanto, com o lançamento do teaser do Rings of Power e também com tudo que vem acontecendo no meio da fantasia, entretenimento e RPG, vi a necessidade de expandir o escopo da reflexão pra um contexto geral.

Esse tópico se propõe a analisar 3 coisas: (1) O que está acontecendo com a cultura fantástica*. (2) Quais parâmetros culturais devem ser valorizados. (3) Qual deve ser o plano de ação a ser tomado diante do exposto.

A Morte da Cultura Fantástica
A cultura fantástica está morrendo, não por falta de obras, de popularidade, de quantidade, mas sim, devido a falta de qualidade. O cenário de hqs, livros, séries e filmes esbanja puerilidade e isso pode ser confirmado por qualquer "nerd" raiz honesto com seus hobbys. 

A principal causa da morte da cultura fantástica é a falta de integridade e distanciamento da tradição. Assim como o próprio cosmos se expande, distanciando-se do seu centro e rumando para a desintegração, a cultura fantástica se expande, renegando suas raízes e se alimentando de inspirações cada vez mais tolas e vazias. No fim, essa desintegração não vai ser por falta de conteúdo, mas sim pela diminuição do espírito das novas gerações. 

É possível divagar e apontar muitos culpados para a morte de nossa cultura, mas minha proposta é permanecer em nível prático e dentro do escopo do blog e por isso vou identificar o inimigo como um movimento orgânico e social.

Isso mesmo, a cultura fantástica está sendo destruída por um movimento orgânico e social. (que vou chamar de sistema da morte) e ele é alimentado por 3 agentes: (1) o público raso, (2) o produtor de conteúdo e a (3) grande mídia. Compreendendo esses agentes é possível compreender o funcionamento desse sistema.  Vamos lá...

(1) O Público Raso: O público raso é uma pessoa que não conhece em profundidade a cultura fantástica. Eles são formados pela nova geração que é naturalmente menos informada ou aqueles que não gostam de fato da cultura, ou seja, aquele que gosta de gostar das obras e produtos e estão ali pelo sentimento de grupo, pelo estilo e pelos símbolos do meio. Em ambos os casos, eles são alienados e fáceis de alienar. 

O problema do público raso é que eles não entendem a essência das obras, alguns não desejam entender e já outros, até entendem, mas pouco lhes interessa. Eles consomem conteúdo ruim sem refletir, não ligam para os cânones, são incapazes de criar conteúdo bom e assim formam a base e alimentam todo o sistema de morte cultural.

(2) O Produtor de Conteúdo: Existem produtores de conteúdo que atuam contra a própria cultura fantástica, eles compartilham em diferentes graus 3 características: (1) ele faz parte do público raso incapaz de compreender a essência e respeitar os cânones, produz conteúdo ruim, modista e passageiro, corroí as bases da cultura e realimenta o sistema. (2) ele é um canastrão, objetiva a grana e publicidade, não se importa com a qualidade, mas sim em agradar o público raso. (3) ele é um ideólogo panfletário, ele não sabe colocar suas ideias na obra, apenas faz panfletagem política, em outras palavras, lacra. As vezes ele não entende da essência e apenas age conforme suas convicções, as vezes, ele é um canastrão que só quer explorar o público, mas as vezes, ele sabe o que está fazendo e seu desejo é sequestrar uma obra ou símbolo pra propagar sua agenda.

(3) A Grande Mídia: A grande mídia vai alimentar o sistema da morte divulgando os produtores de conteúdo ruins, seja para lucrar sobre o público raso, seja para propagar sua agenda. Muitas vezes, a grande mídia sofre pressões ou recebe financiamento de corporações ou ONGs com intenções panfletárias.

Desejo reforçar que o sistema da morte é um movimento orgânico e social, ele não pode ser reduzido a indivíduos. Atacar seus agente individualmente é contraproducente e anti-estratégico. 

Os Parâmetros da Fantasia
Uma vez entendido o inimigo, é a vez de entender as armas e as armas são a própria tradição fantástica e suas características.

A boa tradição fantástica possui algumas características importantes, saber reconhecê-las é útil, não apenas para defender ou criticar uma obra, mas para melhor apreciá-la. Defender a cultura fantástica é defender sua tradição e suas características: (1) o maravilhamento, (2) o cânone, (3) a topologia da fantasia, (4) a mensagem.

(1) O Maravilhamento: Uma obra fantástica não é boa apenas por seu enredo e seu cenário. É necessário que a obra cause maravilhamento. Aqui, uso o termo maravilhamento de forma genérica e ampla, pois é impossível descrever o escopo dessa ideia, visto que ela deve estar presente em todas as obras de ficção especulativa, seja a própria fantasia, a ficção científica, o terror, o gótico, etc. Exemplos fazem um melhor trabalho em descrever esse conceito.

O maravilhamento é o sentimento de mágica, de estranheza que causa a diminuição da percepção da realidade cotidiana. É a capacidade de transcendência, elevação de espírito, comunhão com todos os seres, transposição do tempo e espaço, apequenamento diante do extraordinário, etc. O maravilhamento é causado quando o elemento fantástico, científico, de terror, é bem utilizado.

(2) O Cânone: O cânone são os princípios gerais que regem uma obra, ele não apenas serve pra dá coerência, mas também para preservar a essência e servir de modelo. É natural que pessoas bem educadas desejem preservar os cânones em respeitos de seus mestres.

O cânone por vezes ultrapassa a obra original. Anões dificilmente são retratados sem barbas. Vampiros morrem com a luz do sol e são espantados por alho. Adiante abordarei de novo o assunto.

(3) A Topologia da Fantasia**: Imagine um enorme gráfico tridimensional onde cada ponto contém é um sentido, um significado diferente. Esse é um gráfico contendo tudo, todas os sentimentos, experiências, conceitos e definições. Obviamente, uma pessoa normal nunca será capaz de conhecer todas as áreas desse gráfico. Por vezes a literatura e outras artes são capazes de levar a mente da pessoa a áreas do gráfico que elas não teriam acesso normalmente. Por exemplo: trágicas experiências de guerra. 

Perceba que a imaginação é capaz de expandir ainda mais o conteúdo desse gráfico adicionando elementos fantásticos fora da realidade. O conjunto das experiências fantásticas que possui como eixo o próprio homem é o que chamo de topologia da fantasia.

(4) A Mensagem: Toda obra possui uma mensagem, seja ela direta ou indireta, seja a obra, fantasia, ficção ou terror. Perceber, entender e julgar essa mensagem é crucial.

A Defesa da Fantasia 
Agora é hora de traçar uma estratégia pra defender a fantasia. Aqui vou reiterar novamente, o inimigo é um movimento orgânico, descentralizado e social. Estamos combatendo um vírus e opor-se diretamente a ele não é solução. As ações que vou listar são resumidas em 4 pilares: (1) Conhecer e Divulgar, (2) Apoiar, (3) Reagir e Criticar e (4) Criar. O objetivo delas é claro, abrir os olhos do fã alienado, punir o produtor de conteúdo ruim e criar alternativas para o hobby. Eis as ações:

(1) Não Antagonizar Indivíduos: Muitas pessoas irão discordar de sua opinião. Eles podem fazer parte do público raso e estarem alienados, podem estar recebendo alguma vantagem para isso (seja patrocínio ou medo de perder o patrocínio), ou eles podem ter uma agenda ou preferência ideológica que sobrepõe o amor pela obra.  Nunca se irrite, nem ofenda essas pessoas, esses são atos que podem fazer o público se voltar contra você e isso não é bom. Critique ideias, ou mesmo ria delas, mas faça isso de uma forma geral, sem antagonizar e desrespeitar indivíduos.

(2) Apoie Criadores de Conteúdo Raiz: Apoie aqueles que conhecem a essência das obras e seus princípios originais, que não são comprados por benefícios, nem abaixam a cabeça pra ideologias. Não apenas apoie, fique junto deles, beba de suas ideias e fomente o diálogo. Essas sãos as pessoas que podem fazer a cultura sobreviver.

(3) Conheça e Divulgue a Essência das Obras: Tenha apego a obra original e conheça sua essência. Estude, busque informação, mas tenha cuidado com a fonte de onde você bebe a água. Se lembre do ponto 2, fique junto de quem segue os princípios. Não tenha medo de expor suas opiniões, não tenha medo nem respeito intelectual dos grandes portais e "especialistas", a maioria são vendidos, pagam pedágio ideológico com medo de serem cancelados. Se você conhece a essência e fala com o coração, então você está certo e se não estiver não tem problema, você irá crescer em entendimento de forma honesta.

(4) Respeite o Cânone: O cânone deve ser respeitado de forma quase religiosa. Nunca aceite mudanças no cânone de uma obra original, sempre julgue mudanças no cânone como algo ruim. Como disse anteriormente, o cânone por vezes ultrapassa o escopo da própria obra. Nesse caso, inovações são bem vindas, mas como julgar que a inovação é boa ou não? Orcs bonzinhos que fazem família, vampiros que brilham no escuro... Utilize os parâmetros da fantasia para julgar. A adaptação causa maravilhamento? A adaptação está expandindo ou diminuindo a topologia da fantasia? Ou seja, o elemento fantástico original está menos mágico e mais próximo do humano?

(5) Exponha a Panfletagem e a Ideologia: Esse é um ponto de inflexão. Chegamos em um momento em que os produtores, as grandes portais, a mídia em geral se unem com militantes para rotular e silenciar os críticos. Isso aconteceu com Star Wars e acontece novamente com Rings of Power.. Esse é um ataque desleal e injusto, ele divide a base de fãs e aliena ainda mais as pessoas. Não aceite esses rótulos, seja firme, mostre a essência e o cânone e depois exponha a hipocrisia dos detratores. Não seja agressivo, é tentador ofender essas pessoas e seus cúmplices, mas isso só irá gerar mais alienação. Não aponte o dedo falando sobre política, muita gente não entende isso. Seja articulado e exponha seu ponto.

(6) Elogie o Bom, Critique o Ruim: Reconheça o que é bom, não seja radical, é justo que atitudes positivas sejam reforçadas, além disso, radicalismo afasta pessoas. Sempre elogie o que é bom. No entanto, seja impiedoso contra o que é ruim. Não tenha pena de criticar e se for do seu perfil, utilize palavras fortes, deboches, seja ácido. Mas sempre tenha base e argumentos. Apenas a boa crítica é capaz de salvar a cultura. 

(7) Não Consuma Produtos Ruins: Não dê chance pra produtores que acabam com suas obras favoritas. Isso é um cavalo de troia. Não permita o produtor sequestrar a obra, não permita que ele pense que tendo a franquia nas mãos ele também terá seu dinheiro. Sempre que você consome algo que é claramente ruim você está permitindo o produtor a fazer o que quiser com a obra que você ama. Aqui não estou me referindo apenas a adaptações, estou me referindo a todo o merchandise envolvido, roupas, brinquedos, enfeites, etc. Se você quiser assistir para poder criticar e discutir, não tenha pena de piratear. 

(8) Não Abandone o Produto: Depois da vandalização do produto e do mau conteúdo posterior, é tentador abandonar a obra original. No entanto, não faça isso, preserve seu amor pela obra original, elogie ela sempre que possível. A obra precisa de você, assim como o público raso precisa de sua orientação. Imagine a nova geração sendo bombardeada por produtos de Star Wars, mas sem conhecer a trilogia original.

(9) Crie seu Próprio Conteúdo: Em tempos difíceis é necessário manter o fogo acesso, é necessário criar caminhos alternativos. Mais importante do que todos os pontos acima é a criação de novo conteúdo. Crie seu próprio conteúdo apoiados nos mestres do passado, com certeza ele será bom. Pode ser um trabalho amargo e sem reconhecimento, mas é gratificante e precisamos andar com nossos próprios pés.

Considerações Finais
Nesses tempos sombrios é necessário se posicionar e muitas pessoas estão fazendo isso. Essa contribuição tem como objetivo guiar as pessoas a se posicionarem de maneira correta e não contraprodutiva (embora não tenha pretensão de atingir um grande número de pessoas :p).  

Esse texto não tem como objetivo de formar militância, mas sim conscientizar. Acredito que cada pessoa tem seu papel no resgate da cultura, mas que ela não precisa ser instigada em nada e pode realizar seu papel conforme seu próprio perfil. Pessoas com espírito plácido podem preferir conhecer uma obra a fundo e difundir seu conhecimento dialogando. Aqueles com espíritos mais agressivos, talvez prefiram a crítica. Eu por outro lado, sempre prefero criar conteúdo e acredito que minha energia é melhor aproveitada assim. O destino da terra-média repousou nos ombros de Frodo e ele não era um soldado treinado, mas sim um hobbit comum.

Seja como for, meu posicionamento sempre foi claro. Deixo meu apoio a todos aqueles que estão do lado da tradição fantástica e contra os avanços das agendas modernas e de seu revisionismo ideológico.



* Entenda cultura fantástica de forma ampla envolvendo fantasia, ficção científica, super-heróis, etc. Cultura nerd em geral. Eu poderia ter usado o termo cultura nerd, e chamado o público raso de nerd nutela... mas quem me conhece sabe que não sou fã do termo nerd.

** Eu criei o conceito de topologia da fantasia misturando pensamentos de Tolkien e de Heidegger. Já usei o termo no blog outras vezes e acredito que merece um post dedicado para explicar o conceito melhor.

domingo, 23 de janeiro de 2022

Tratado sobre Magia Vanciana


 CONTEMPLEM!!! O TRATADO SOBRE A MAGIA VANCIANA!!!
Livro bom!

Durante muito tempo, as regras de conjuração de magia de D&D foram baseadas e inspiradas na literatura de Jack Vance. Devido a isso, esse conjunto de regras era chamado de sistema vanciano de magia. 

Naqueles tempos, o mago memorizava as magias que iria conjurar durante o dia na meditação matinal. Se o mago conhecesse 100 magias, ele precisaria associar a cada uma de suas cargas uma magia específica. Se ele escolhesse associar bola de fogo e não voar, ele não poderia conjurar voar, mesmo se precisasse e tivesse a magia em seu grimório. Ou seja, nada de conjuração espontânea.

O problema mecânico dessa abordagem na minha opinião é que ela não apenas torna a classe do mago menos atrativa, como também aumenta o tempo de preparação do jogador conjurador em detrimento do tempo de aventura. A quinta edição, finalmente, tornou a conjuração do mago espontânea coisa que já era feita devido as nossas regras da casa.

Mas a grande questão é sobre o fluff. Aparentemente, a justificativa do sistema vanciano de magia não faz sentido. É compreensível o mago só conseguir memorizar uma certa quantidade de fórmulas mágicas durante o dia, afinal, ele possui limitações. Mas nesse sistema, após a conjuração do encantamento, a fórmula mágica simplesmente desaparece da cabeça do mago e ele não pode voltar a conjurar a magia novamente durante o dia. Mas que? heheehe.

Agora eu vou explicar o pulo do gato. A questão não é o mago, mas sim a fórmula mágica. A magia e o poder estão na fórmula em si só e não no mago. Imagine uma fórmula tão poderosa que após a leitura ela invade sua mente e se aquartela na sua cabeça até ser liberada. É por isso que o pergaminho perde seu poder após um único uso e o conjurador, mesmo tendo o pergaminho nas mãos, só possui uma chance de copiar a magia.

O seguinte trecho do livro Suldrun's Garden exemplifica minha interpretação:

Casmir considered himself a patron of the magical arts. In a secret chamber he kept a number of curios and magical adjuncts, including a book of incantations, indited in illegible script, but which glowed dimly in the dark. When Casmir ran his finger over the runes a sensation peculiar to each incantation suffused his mind. He could tolerate one such contact; twice caused him to sweat; thrice he dared not lest he lose control of himself.  


Casmir se considerava um patrono das artes mágicas. Em uma câmara secreta, ele mantinha uma série de curiosidades e acessórios mágicos, incluindo um livro de encantamentos, escrito em letra ilegível, mas que brilhava fracamente no escuro. Quando Casmir passou o dedo sobre as runas, uma sensação peculiar a cada encantamento inundou sua mente. Ele poderia tolerar um desses contatos; duas vezes o fez suar; três vezes ele não se atreveu a perder o controle de si mesmo. 

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

A Queda de Star Wars - Parte 7 - O Golpe Final


  CONTEMPLEM!!! A QUEDA DE STAR WARS - O GOLPE FINAL
A pá de cal

Enfim chegamos ao último filme da nova trilogia. O mérito do Rise of Skywalker foi escutar os fãs e tentar consertar a lambança das películas anteriores. Infelizmente, a obra já havia alcançado o estado de impossível reendenção. O filme é uma tragédia total e apesar de ser meu favorito só posso adjetivá-lo como hediondo e dá graças a Deus pelo fim dessa insanidade.

Na tentativa de consertar os erros de Last Jedi, Rise of Skywalker joga na geladeira a gordinhas, despreza a manobra Holdo e faz Finn montar cavalos espaciais. Eu bato palmas para a atitude... pelo menos é uma forma de dá satisfação a base de fãs. O problema é que numa visão holística da trilogia a obra fica com uma baita cara de Frankenstein.

Outro acerto do Rise of Skywalker, foi finalmente ter colocado um defeito para Rey e um momento de dúvida, embora isso tenha sido foi feito de maneira porca, com Rey atirando raios de força intuitivamente, já que ela não precisa de treinamento em nada... mas bem...  De qualquer forma... é no terceiro filme que vemos o esboço de um arco de personagem pra protagonista. 

Mas os acertos acabam por aí... o filme não passa de um remendo de cenas de ações justificadas por objetivos que são continuamente substituidos e mais uma grande dose de incongruência, seja dentro da película em si, seja dentro da trilogia ou do próprio universo de Star Wars.

Não vale a pena entrar em detalhes nas falhas de roteiro que é o desastre de Rise os Skywalker. Mas vamos expor pelo menos os problemas mais risíveis.

Alguém se lembra de mim?
  • Paul Dameron Líder da Rebelião: Porque Leia não tinha ninguém melhor que ele para passar a liderança e após receber a responsabilidade Paul ainda se sente sozinho e chama Finn para ser general. Enquanto isso, um outro personagem tava ali sobrando do lado. 
  • Starkillers: Como já teve 3 estrelas da morte, é necessário algo mais grandioso, uma frota de naves espaciais, onde cada uma tem o poder de destruir um planeta! Além de ser um peido na cara do espectador, ignora o fato de que estrelas da morte precisam ser do tamanho que são devido os requesitos para manter uma arma com poder de destruição planetária.
  • Retorno de Palpatine: Vamos jogar no lixo tudo que foi alcançado na trilogia original.
  • Dual da Força: Uma bela masturbação de lore sem sentido.

O Resultado Final
Rise of Skywalker é um desastre, uma bagunça, o filme é sofrivel do início ao fim e fecha a saga mais decepcionante da história do cinema. Mas pelo menos tem boas intenções. 

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

A Queda de Star Wars - Parte 6 - Os Fundamentos de Rey


 CONTEMPLEM!!! A QUEDA DE STAR WARS - OS FUNDAMENTOS DE REY
Início do Fim

Está na hora de voltarmos para o primeiros filme e analisarmos Rey, uma das principais peças para o desmoronar da nova trilogia. O foco da crítica será a Rey do primeiro e do segundo filme. Será feito uma postagem específica para o terceiro filme. Então, vamos nessa.

Uma das principais críticas a Rey na internet é que ela é um personagem Mary Sue, ou seja, tem tudo de mãos beijadas. Isso é verdade, mas podemos trabalhar melhor essa crítica expondo alguns pontos. 

Em geral, ao se criar uma história se desenvolvem os personagens*. Os personagens amadurecem, superam desafios, se tornam mais fortes, etc. Isso causa o apelo para as pessoas gostarem dos mesmos. Esse conjunto de transformações se chama de arco de personagem. Star Wars, tradicionalmente faz esse desenvolvimento através da jornada do herói e Rey não é diferente. No entanto, o arco de Rey simplesmente não funciona e não funciona pois seus fundamentos são ruins, ela está quebrada em sua base.

Aplicando uma matriz SWOT em Rey identificamos a falha de seus fundamentos. 

Primeiro, Rey possui todas as forças:
  • Vence combate corpo à corpo contra oponentes maiores.
  • Pilota naves com excelência.
  • Faz a manutenção técnica das naves.
  • Opera mecanismo destravando portas.
  • Utiliza blasters com excelência tendo tocado na arma pela primeira vez.
  • Utiliza o sabre de luz com excelência derrotando um espadachim treinado tendo tocado na arma pela primeira vez.
  • Utiliza a força para empurrar e puxar coisas sem nunca ter treinado.
  • Resiste ao controle mental sem nunca ter treinado.
  • Utiliza o controle mental sem nunca ter treinado.
  • É sempre respeitada por todos os mocinhos.
  • É sempre generosa e bondosa.
  • Cura ferimentos mortais (mas isso é do último filme :P).
Segundo, Rey não possui nenhuma fraqueza (até o último filme tentar consertar isso).

Se Rey possui todas as forças e nenhuma fraqueza, é praticamente impossível lhe oferecer adversidade. É a falta de adversidade que faz com que a fórmula da jornada do herói da protagonista falhe para o público. Inclusive, é muito difícil para o espectador identificar as etapas da jornada seja em cada um dos filmes, seja na trilogia como um todo.

Vejamos a evolução de Luke Skywalker. Em Nova Esperança, ele é um jovem ingênuo. No Império Contra-Ataca, ele é um jovem, treinado, impetuoso ou mesmo arrogante por desafiar Darth Vader. No Retorno de Jedi já vemos um Luke sábio, capaz de mostrar compaixão e enfrentar as tentações do lado sombrio. Quanto a Rey... ela decidiu ser parte da rebelião e treinou um pouco.

Agora vamos para o último quadrante da matriz SWOT, as oportunidades, que serão entendidos no nosso contexto como as motivações do personagem. No primeiro filme, a motivação de Rey é encontrar seus pais e descobrir suas origens. No segundo filme, a mensagem é que a origem da personagem não importa. No fechamento da trilogia, Rey se auto-proclama Skywalker. Toda essa transformação ocorre sem um pingo de organicidade, é um roteiro contradizendo o outro. O resultado final é uma confusão só e Rey parece ser guiada pelos poderes do protagonismo.

Não dá!

O Resultado Final
Rey possui toda a força, nenhuma fraqueza, nenhuma adversidade e uma motivação confusa. Com esses fundamentos se torna quase impossível criar um bom arco de personagem para ela. Além disso, a combinação dessas características faz com que a jornada do herói não funcione. Sem ameaças significativas a transformação não se justifica, a personagem se torna plana e não gera identificação com o público. Em adição, o excesso de poder faz com que a personagem pareça arrogante, somado com os chiliques panfletários da obra, se torna mais fácil para o público desenvolver repúdio da protagonista. 

Quando assisto um filme costumo pensar no que eu poderia mudar pra torná-lo  melhor. Filmes nota 10 são aqueles que eu reconheço que não poderia mudar nada ou que sequer teria capacidade de pensá-los. Já a nova trilogia de Star Wars, foi a primeira obra que julgo ser melhor descartar. É uma obra infeliz nos seus alicerces. O próximo post da série finalmente irei abordar o último filme da trilogia.

* Essa não é uma regra absoluta. Existem ótimas histórias que os personagens começam e terminam sem desenvolvimento, um exemplo é Sherlock Holmes, no entanto, a atenção do espectador é capturada pela trama, o que torna esse tipo de narrativa ainda mais complexa e de difícil sucesso. 

domingo, 19 de dezembro de 2021

A Queda de Star Wars - Parte 5 - Feminicídio Cultural

 
CONTEMPLEM!!! A QUEDA DE STAR WARS - FEMINICÍDIO CULTURAL!!!
A era da panfletagem

A crítica ao novo Star Wars não estaria completa sem uma análise da protagonista Rey. Mas qualquer argumento levantado contra Rey logo é rotulado por uma esfera de pessoas como sexismo ou machismo. Muitas dessas pessoas são militantes de twitter e jornalistas panfletários cuja opinião não merece maiores comentários, porém quando essas falácias são ecoadas pela própria direção executiva de Star Wars (Kathleen Kennedy) é bom abordar o assunto.

Nesse tópico, tratarei sobre isso, antes de seguir para análise de Rey. Vou expor minha visão sobre a fan base e sobre como as personagens femininas estão sendo tratadas pela cultura pop ocidental. 

Primeiramente, antagonizar a base de fãs é uma burrice fadada ao fracasso, assim como antagonizar o público masculino, maior consumidor de séries de ficção cientifica e maior consumidor de brinquedinhos. Além disso, o fato da maioria do público não possuir ferramentas para sistematizar suas críticas, não significa que seu desconforto com o produto deva ser aviltado ou manipulado pra gerar um sentimento de culpa. Trolls, existem sim, mas esse é um efeito colateral da internet e é um erro reduzir todo mundo a troll.

Afirmar que fracassos de protagonistas femininas fortes como Rey, Capitã Marvel, Caça Fantasmas e Panteras se dá pelo público sexistas é ignorar sucessos como Kill Bill, Alien, Exterminador do Futuro, Silêncio dos Inocentes, Arquivo X, Buffy, Xena, etc. E isso sem se estender para área de desenhos animados, quadrinhos e games. 

Mas sim, existe um fenômeno que está gerando o fracasso de personagens femininas atualmente. O que está acontecendo é o empobrecimento dos arquétipos femininos. A panfletagem, além de querer dá lição de moral, quer imaginar seus personagens os mais próximos possíveis de seus modelos artificiais, distantes dos arquétipos mais orgânicos e tradicionais. Um exemplo stars warsiano desse empobrecimento ocorre em mandalorian, as personagens femininas fortes e originais são em sua maioria amazonas brucutus. Isso é mais evidente no último episódio da segunda temporada. A comparação entre essas personagens e Ahsoka (que não é original da série) é gritante. É esse fenômeno que chamo de feminicídio cultural.

Botox Panfletário

Ao tentar injetar panfletagem na essência dos personagens, o próprio personagem é enfraquecido, muitas vezes se tornando caricato e o excesso disso é insuportável. Personagens femininas são o grande alvo desse botox panfletário e o resultado é o que é.

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

A Queda de Star Wars - Parte 4 - O Anti-Star Wars

 
 CONTEMPLEM!!! A QUEDA DE STAR WARS - O ANTI-STAR WARS
O último...

A partir desse tópico passarei a criticar a trilogia da Disney. Infelizmente, caro leitor, não irei fazer uma crítica completa. Não exija de mim limpar um estábulo repleto de merda com uma paleta de exame de fezes. Destrinchar os 3 filmes da trilogia expondo cada um de seus defeitos é algo que vai além das minhas forças, exigiria mais tópicos do que estou disposto a fazer, além de revisitar cada filme arriscando sucumbir a vontade de arrancar meus olhos e furar meus ouvidos. No entanto, isso tem um lado bom, pois irei me reter naquilo que ataca a franquia no âmago, dando ênfase a esses pontos, coisas que a maioria das críticas não fazem. Além disso, a internet já tem várias críticas que esmiúçam o roteiro, analisam cada personagem e expõe cada pedacinho de ativismo e panfletagem da nova trilogia. 

Então por onde começar? Não quero fazer arrodeio, então irei logo no âmago do problema: Os Últimos Jedi, The Last Jedi ou apenas TLJ. O filme que considero o matador da franquia. Veja bem... Apesar do TLJ conseguir  lucrar, ele foi um fracasso total! Não apenas lucrou menos que o esperado, como afundou outros produtos juntos com ele, obrigando a Disney a repensar seu trabalho e intervir no estúdio responsável. Não digo isso como argumento, mas sim para avisar que A Ascenção de Skywalker já foi concebido pra concertar a lambança. Então entenda que originalmente o plano do estúdio era seguir com a fórmula e resultados do TLJ, a desconstrução total da franquia. 

Eu chamo o Os Últimos Jedi de o Anti-Star Wars. O filme pode ter naves espaciais, sabre de luz e a força, mas em seu núcleo não é Star Wars. Pior que isso, ele faz uma subversão total daquilo que amamos em Star Wars, transformando em algo odioso e tentando nos vender como a obra dos nossos corações. Você pode não gostar da prequela, mas com todos os seus defeitos ela ainda conserva em si a essência da saga. No tópico anterior dessa série de postagens expus justamente essa essência, agora irei  expor as deformações feitas nela, ponto por ponto, por essa panfletagem ideológica disfarçada de película cinematográfica.  

Situação complexa :/

A Dicotomia como Elemento Fundante
Superficialmente o Anti-Star Wars parece conter toda a dicotomia clássica, afinal, o plano de fundo do filme continua sendo a guerra entre a aliança contra os remanescentes do império e a força também está lá, com seus jedis e siths. Mas, um espectador mais atento ou um fã com mais carga,  certamente sentirá algo de errado, infelizmente, a maioria deles não possuem as ferramentas técnicas necessárias para formalizar e sistematizar esse sentimento. Então vamos lá:

O Anti-Star Wars é marcado por cenas de ação dinâmicas ou melodramáticas que por si só não levam a reflexão. Em adição, o humor do filme é tolo e constantemente quebra a seriedade e tensão. Além disso, nenhum dos personagens principais emitem qualquer opinião de valor sobre o conflito galáctico. Mediante tudo isso, existe uma exceção.

O cracker, personagem de Del Toro, cujo objetivo é desligar o rastreador no destroyer imperial. Ele possui 2 cenas em especial que fogem totalmente do padrão do filme. Essas cenas são confeccionadas para passar uma mensagem direta e explícita para o espectador. São elas: (1) Quando o cracker conversando com Finn mostra que a elite rica vende armas para ambos os lados. (2) Quando o mesmo personagem trai Finn com a justificativa que independente do vencedor da guerra o "sistema" permanecerá o mesmo. Finn ainda tenta rebater Del Toro: "Não, não será assim...". Então a câmera enquadra Del Toro e ele solta: "Maybe", num claro gesto de call to arms.

Mas ora, a implicação desse argumento é que a guerra contra a Primeira Ordem é irrelevante, os dois lados são iguais, nada mudará no final. A dicotomia, a luta do bem contra o mal, além de toda política construída na prequela e também no universo estendido jogados no lixo, pois o Anti-Star Wars precisava passar a mensagem que o verdadeiro vilão, o verdadeiro mal, é uma caricatura de sistema ricamente caracterizado por ricos decadentes e imorais comerciantes de armas. Bravo! Eis o fruto do seu ativismo ideológico.  

Da mesma forma, a força retratada no filme apenas aparenta ser força que amamos, mas ela não passa de um simulacro vazio. Para entender melhor isso é necessário definir a força e a filosofia jedi conforme toda a tradição anterior da franquia.

A força é energia. A energia proveniente de todos os seres vivos e que conecta a tudo. Essa energia possui 2 lados em conflito um contra o outro: (1) o lado luminoso que advém do amor e compaixão para todos os seres vivos e (2) o lado negro que advém do egoísmo, sede de poder, ódio e medo. Nesse conflito no entanto, as armas do lado luminoso são a paz e compaixão, enquanto as do lado negro são o medo e violência. 

Os jedis acreditam que é possível alcançar e manter um estado de equilíbrio com a força, este estado se dá reconhecendo o lado negro e contendo-o através de rígida disciplina enquanto se dedicando ao lado luminoso através da abnegação, serenidade da mente e do serviço para os outros. É desta forma que os jedis conseguem canalizar os poderes do lado luminoso. Já os siths canalizam seus poderes entregando-se as suas paixões mais brutas. Eles são descomedidos e seu objetivo não é apenas dominar a galáxia, mas também fazer com que o lado negro domine-a, ou seja, dominar através da violência e terror e extinguir com qualquer equilíbrio.

Sobre o termo equilíbrio podemos concluir que: (1) a força possui um estado natural de equilíbrio que é o conflito constante do lado luminoso e negro, (2) o equilíbrio também pode ser entendido como um estado de disciplina no qual o jedi mantém sob controle seu lado sombrio evitando a corrupção, (3) os siths causam desequilíbrio a força de maneira não natural extinguir o lado luminoso. 

Agora no Anti-Star Wars:
 
  1. A força é definida como equilíbrio em si mesma. O filme dá ênfase a palavra equilíbrio através dos ensinamento de Luke, no entanto, não existe menção da disciplina jedi do auto-controle, nem do conflito do bem contra o mal. 
  2. No Império Contra Ataca, quando Luke entra na árvore em Dagobah, ele se depara com um lado sombrio sinistro e perigoso, explorando seus medos mais íntimos (se tornar como Darth Vader) e revelando o próprio interior do herói.
    Já no Anti-Star Wars, quando Rey entra na caverna do lado sombrio se depara com um truque qualquer de mágica, um salão de espelhos saído de um conto de espada e feitiçaria. A mágica revela que ela é a própria responsável por suas escolhas (a armadilha está montada), coisa que a personagem não entende no momento. O interior de Rey não é revelado, pois este é um personagem oco. Não existe nenhum esforço ou desafio para se obter essa informação. O lado sombrio não é retratado como sinistro, sedutor e perigoso.
    A tentação do lado negro, conceito fundamental, chave narrativa e joia estética, jogado fora. O único que saiu com medo da caverna fui eu, prevendo a palhaçada que viria depois.
  3. Rey luta parecendo uma fera selvagem, sempre com alguma expressão de raiva no rosto, bem diferente da serenidade dos jedis e do conceito de equilíbrio estabelecido pela ordem.
  4. A cereja do bolo é a cena na qual Kylo Ren oferece a mão e o império pra Rey. Embora toda situação remeta as sagas anteriores, ela não passa de uma farsa barata. Anakin e Luke, os verdadeiros Skywalkers, são de fato tentados pelo lado negro. A história dos 2 é trabalhada para que ao chegar o momento do aliciamento eles se sintam seduzidos a sucumbir. No entanto, para Rey, esse momento é apenas uma escolha.
    Mas porque é uma escolha? O próprio filme explicitamente propõe essa afirmação. Aqui voltamos para o ponto 2, para caverna de espelhos, para armadilha. O propósito da caverna de espelhos era ensinar a Rey que ela teria que realizar suas escolhas sozinha, assim a lição final está completa! Ela toma sua decisão e CUMPRE o que foi designado pelo LADO SOMBRIO da força.
É clara a intenção dos responsáveis do filme de distorcer o conceito da força. Nem mesmo precedentes do universo expandido como os "grey jedi" que não aderem com tanto rigor o código jedi são hereges a ponto de adotar uma visão pró lado negro. A obra realmente sugere a criação de um novo caminho de entendimento da força.

O resultado final é que o Anti-Star Wars com suas ênfases e omissões faz um elogio ao lado sombrio. A força não expressa dicotomia, nem possui características morais. A única filosofia evidenciada é o relativismo.     

Os 3 Planos da Narrativa
Como foi dito anteriormente Star Wars possui 3 planos de narrativa: (1) o conflito galáctico, (2) o conflito interno do protagonista, (3) a equipe principal. Agora no Anti-Star Wars a protagonista não passa por conflito interno nenhum.

Na trilogia original os medos de Luke são expostos na árvore de Dagobá. Ele é tentado e torturado por seu pai. Ele ver seus amigos sendo aniquilados pelo imperador. Mas não sucumbe, não se deixa dominar pela raiva e encarna a esperança confiando na vitória dos seus aliados e na redenção de seu pai. Já na prequela Anakin come o pão que o diabo amassou. Ele não se adapta a ordem jedi já decrepita que ensina a abnegação total e a supressão dos sentimentos. Ele perde sua mãe assassinada pelo povo da areia e depois cai perante o ódio realizando um massacre. Ele desenvolve o medo de perder sua amada Padmé e isso o corrompe definitivamente para o lado negro. Por fim, tem sua tragédia consumada ao matar Padmé por ciúme de forma equivocada.

No Anti-Star Wars Rey não é tentada, a ela é dada apenas uma escolha. Rey não passa por um processo de conflito, ela passa por um processo de 🌷 autodescoberta 🌷. 

A Jornada do Herói
A jornada do herói é uma receita, mas segui-la não garante o sucesso de uma obra, depende da execução e o Anti-Star Wars falha na sua execução. Isso ocorre pelo excesso de poder dado a Rey na sanha panfletaria de criar um arquétipo gonzo da empoderada. Na prática o que ocorre é a sensação de que os desafios de Rey são irrisórios e a personagem não cresce no desenvolvimento de sua história pois ela já capacidade para superar tudo. Irei dedicar um tópico no futuro para destrinchar a personagem com ferramentas literárias.

Duro golpe!

Épico Espacial
Para uma obra ser épica é necessário uma boa execução artística. O épico não é definido pela grandeza de escala, mas na grandeza de espírito. O Anti-Star Wars novamente falha na execução do épico e falha miseravelmente. Isto se dá por 3 pontos: (1) humor, (2) zombaria e (3) insignificância. Vamos discutir cada um desses pontos.

  1. Humor: A primeira cena do Anti-Star Wars, no qual Poe Dameron faz uma pegadinha com o general Hux, já revela os rumos do filme, uma obra grotesca, recheada de humor marvel mal colocado. Obviamente eu gostaria de ver humor em Star Wars, no entanto, a direção foi incapaz de entender que este não é um filme de super-herói descompromissado. A grande maioria das cenas de humor são ridículas e servem apenas pra desconcentrar e quebrar a tensão. Entre outras maravilhas dessa obra prima estão: Finn no traje de recuperação, Luke bebendo leite de alien e Kylo sem camisa. 
  2. Zombaria: Para um épico ser construído é necessário personagens dignos, tanto no lado dos heróis como dos vilões. No entanto, o Anti-Star Wars zomba e priva de dignidade vários de seus personagens (ou melhor, todos os personagens masculinos). Eles são incompetentes, os mocinhos carecem de heroísmo, os vilões não são terríveis, a credibilidade é arruinada. Ações épicas não nascem a partir de galhofa, uma animação temática do pateta seria melhor sucedida do que este filme. O pior é que todos estes personagens possuem conceitos interessantes que são destruídos:
    • Poe Dameron: Poe é um piloto de caça X-Wing, ícone da franquia original. Seu objetivo é encarnar a coragem, a audácia e a impetuosidade. Porém no Anti-Star Wars ele é capado o tempo todo. Todos seus atos audaciosos dão errado, ele é repreendido e no fim abandona sua impetuosidade.
    • General Hux: Um personagem que poderia incorporar uma disciplina fria e cruel através de  uma estética aristocrática reduzido a um bobo da corte na primeira cena. Sim, o general que deveria representar toda capacidade da Primeira Ordem feito de abestalhado na primeira cena! Como respeitar os antagonistas?
    • Kylo Ren: O neto de Darth Vader que se inspira no seu avô e ainda por cima possui um capacete irado. Outro conceito bom desperdiçado. As crises de chilique de Kylo Ren lembram os filmes de vergonha alheia de Ben Stiller.
    • Finn: Negros de Star Wars sempre foram casca grossa, personagens para se tirar o chapéu; Lando e Mace Windu mandam beijos. Quando assisti o trailer do primeiro filme, minha expectativa com Finn foi as alturas, seu conceito era extremamente interessante, um ex-stormtropper negro fugindo do Império. Infelizmente, de casca grossa Finn não tem nada e no Anti-Star Wars ele é reduzido a alívio cômico.
    • Luke Skywalker: O show de horrores alcança seu auge com a forma que Luke é tratado. Na trilogia original Luke nunca tem superioridade de poder contra seus algozes. Pelo contrário, não falta momentos em que ele está a mercê do imperador ou de Darth Vader. no entanto, ele supera seus desafios através da virtude, ele é a encarnação da esperança, é a Nova Esperança, que não desiste do seu pai, inspirando-o a redenção. No Anti-Star Wars, Luke é um velho amargurado que desistiu do próprio pupilo (reforçado na cena em que ele encara Kylo no final), o total avesso do que ele representou na trilogia original e para somar com isso, ele também é alvo de chacota das constantes piadinhas marvel. Não poderia ter zombaria maior.
  3. Insignificância: Quando acabei o Anti-Star Wars meu pensamento foi que se o filme fosse uma campanha de RPG o mestre seria um merda! As ações e decisões dos heróis são sem sentido, insignificantes, não geram impacto no mundo. Mesmo após vários planos esdrúxulos a frota rebelde é reduzida de várias naves a um punhado de gente que cabe na Millennium Falcon e ainda por cima, a galáxia os abandona não socorrendo-os no momento de necessidade (e os rebeldes acabam o filme comemorando, vai entender...). O roteiro do filme é de um sadismo incompreensível, derivado da falta de entendimento do Império Contra-Ataca. Mas vamos ponto à ponto.
    • Poe Dameron: Comanda um ataque e encabeça um motim para nada. A única coisa que ele faz é seguir uma raposa. Muito épico da parte dele.
    • General Holdo: A caricatura de feminista é permitida a se sacrificar (numa manobra sem pé nem cabeça), mas mesmo assim, seu sacrifício é em vão. Apesar de destruir o encouraçado, tanto Hux como Kylo sobrevivem pra montar um ataque gigantesco contra os sobreviventes, reduzindo-os a migalhas.
    • Finn: Finn é totalmente irrelevante pra trama principal, seu maior feito é derrotar Phasma, personagem importante apenas em seu próprio arco. Quando finalmente Finn vai se sacrificar, se justificar e o filme colabora criando tensão, tam-dam! Rose, impede o ato heroico brochando-o mais uma vez.
    • Luke Skywalker: Há quem diga que Luke se sacrificou... mas uma análise mais técnica mostra que Luke foi sacrificado. Mataram Luke para abrir caminho para Rey e fizeram isso de forma magistralmente ruim. A cena da morte é uma piada. Kylo Ren dá um escândalo após derrotar a miragem do Jedi que estava seguro em sua ilha e então, de novo, tam-dam! Luke morre por exaustão. Mas depois de Finn, a narrativa já tinha perdido a credibilidade e o fato não espantou nem um pouco. Porém o problema é menos a morte de Luke, mas sim a destruição de seu legado. A ingerência da Disney, fez com que o esforço de todos os personagens da trilogia original perdesse o sentido, mas Luke é a manifestação maior dessa falha. Todos gostaríamos de ver Luke como o sábio jedi com seu sabre verde e sua nova ordem, no entanto roubaram de Luke suas vitórias do passado, suas conquistas e seu simbolismo, ele foi massacrado. Tornaram os feitos da trilogia original insignificante.
Para a construção de um épico é necessário dignidade, bravura, sacrifício e impacto no cenário. O Anti-Star Wars não tem isso. É uma falha artística de espíritos pequenos e nada épicos.      

O Cenário
Como falei, o cenário não faz parte da minha crítica. Ainda existe incoerências que poderiam ser levantadas, porém a sistematização exige que eu me retenha essência. 

O Resultado Final
Aqui mostrei por A + B que o The Last Jedi é um Anti-Star Wars, ele não possui a essência da franquia... é o próprio matador da franquia. Um verdadeiro fã de Star Wars tem o dever de repudiar esse filme (mas isso é assunto pra posts futuros).

A tarefa de criticar a nova trilogia é hercúlea. Que fique claro que ainda existem muitos pontos que gostaria de atacar em The Last Jedi, ignorar isso, chega a dar urticária, porém a crítica fica mais forte e concisa desse modo. O próximo tópico da série vamos voltar para o primeiro filme e analisar a Rey.