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SONHO E MÁGICA!!! Venha incauto aventureiro... feche os olhos... adormeça... CONTEMPLE através do sonho os segredos de Amalgamos.

sábado, 19 de abril de 2025

[Classes][D20] Guerreiro


CONTEMPLEM!!!

Bom e velho soldado

Você é um guerreiro. Talvez por escolha, talvez por destino, talvez por necessidade. Carrega o peso das armas enquanto busca compreender seu lugar no mundo. Os caminhos que o trouxeram até aqui podem estar marcados por honra, vingança, dever ou mera sobrevivência — mas todos deixaram cicatrizes. Diante do perigo, você não vacila. Onde outros recuam, você mede a distância, calcula o impacto e avança. A guerra molda muitos, revela alguns e consome tantos outros. Você é apenas um entre esses rostos: defensor ou agressor, elite ou ralé, oficial ou solitário.

O campo de batalha não se importa com nomes, linhagens ou intenções — apenas com feitos. Com o que você fará com a força que carrega. Pois em meio ao caos, quando tudo desmorona, é você quem permanece de pé. Sua presença impõe respeito — ou medo — porque você sabe: a paz é breve, e a lâmina, eterna. Você é um guerreiro. E o mundo ainda não conhece o som dos seus passos.


Virtudes Marciais

Um bom guerreiro é reconhecido muito antes de desembainhar sua arma. Suas virtudes se revelam no olhar que não vacila, no passo firma, na quietude diante da tensão... Seu valor não está apenas nos seus feitos, mas na postura que encara o mundo — uma combinação de força, clareza e presença que nasce do hábito constante de viver à beira do combate.

Fisicamente, o guerreiro carrega no corpo a memória de sua disciplina. Músculos endurecidos pelo treino, reflexos apurados, calos nas mãos que falam de incontáveis horas de combate. Suas cicatrizes não são exibidas como troféus, mas são visíveis a quem entende seu valor. Sua resistência, seu vigor, sua capacidade de suportar dor e cansaço — tudo nele denuncia alguém que conhece o limite do corpo e aprendeu a superá-lo.

Mentalmente, é alguém que pensa com clareza, mesmo sob pressão. Costuma valorizar hierarquia, lealdade e honra — ainda que cada guerreiro tenha sua própria versão desses princípios, por vezes distorcida ou endurecida pela vida. É objetivo, direto, pouco dado a distrações. Seus olhos varrem o ambiente em busca de ameaças, vantagens, rotas de fuga. Para ele, estar atento é uma segunda natureza; a vigilância é uma forma de respeito à própria vida e à vida dos seus.

Espiritualmente, muitos carregam um fardo que vai além do aço. Alguns encaram sua vocação como um aventura e liberdade, outros como um caminho a redenção, e outros ainda como um chamado maior. Seja qual for o motivo, há algo de denso em sua presença. O guerreiro impõe respeito — ou medo — mesmo quando cala. Há em sua alma as marcas do que viu e do que fez, e essa bagagem o molda tanto quanto o treinamento.

As virtudes marciais são, em essência, a expressão viva do combate internalizado: força disciplinada, mente alerta, espírito forjado na dor — e tudo isso, reunido, caminha sobre duas pernas, entre amigos e inimigos.


Desde muito cedo...


Mitos e Lendas

Antes mesmo da guerra ter um nome, já se contavam histórias sobre aquele que lutava. O guerreiro nasce nos mitos como herói primordial — figura de sacrifício, força e destino. Em algumas culturas, dizem que os primeiros guerreiros foram armados pelos céus com a luz das estrelas, incumbidos de proteger os vivos da sombra devoradora. Em outras, contam que sobre o primeiro homem que pegou um galho e o usou para defender sua tribo; e que, desde então, todo guerreiro carrega em si a memória daquele gesto.

Lendas falam de campeões imortais, de mártires da espada, de reis que conquistaram reinos com o próprio sangue e de heróis que desafiaram o próprio destino. Algumas tradições reverenciam o guerreiro como enviado divino, defensor da ordem e da justiça. Outras o temem como ferramenta da destruição — uma força que, uma vez solta, não pode ser contida. Cada povo tem sua versão, seu herói ou seu monstro — mas todos reconhecem o guerreiro como figura central no nascimento das civilizações.

Esses mitos ecoam no presente. Modelam ideais. Justificam guerras. Inspiram canções, brasões e monumentos. Em tempos de paz, os antigos feitos ainda são contados junto às fogueiras e nos salões nobres, como lembrança — ou advertência — de que o guerreiro não pertence apenas ao passado. Sua origem pode estar envolta em névoa, mas sua presença molda o mundo até hoje. Onde houver conflito, haverá quem empunhe uma arma. E onde houver memória, haverá quem conte sobre o primeiro a fazê-lo.


˅ Que tal fazer parte de alguma lenda?


Guerra e Sociedade

A guerra molda não apenas o corpo e a mente do guerreiro, mas também os alicerces das sociedades onde ele vive. Ela ergue muralhas, redesenha fronteiras, destrona reis e escreve leis com sangue. Em tempos de crise, o guerreiro é visto como escudo e espada — firmeza diante do colapso, coragem onde reina o medo. Torna-se símbolo de proteção, esperança e ordem. Povos livres cantam os feitos dos defensores que os livraram da ruína. Reinos orgulhosos exaltam seus generais como pilares do trono. Impérios veneram seus campeões como instrumentos de uma glória inevitável, guiados por um destino que justifica cada conquista.

Mas o mesmo campo de batalha que forja heróis também gera monstros. Em terras consumidas pela ambição, há guerreiros que não lutam por justiça, mas por ouro, poder ou obediência cega. Tornam-se braços de tiranos, executores de ordens cruéis, invasores que pisam sobre culturas que não compreendem. Nesses lugares, sua imagem é temida e desprezada — não pela força em si, mas pela maneira como ela é usada contra os indefesos.

Em tempos pacíficos ou estáveis, quando o conflito parece distante, o guerreiro assume outros papéis. Torna-se guarda das muralhas, mestre de armas, protetor de estradas, defensor de cerimônias sagradas. Sua presença inspira segurança e muitos são honrados como exemplos de virtude e disciplina, ensinando às novas gerações a arte do combate e também o valor da retidão. Outros mantêm-se em silêncio vigilante, cientes de que a paz é frágil e que sua missão, embora adormecida, nunca termina. Nesses reinos, o guerreiro é sentinela da paz e estabilidade.

Porém nem todos colhem os frutos que ajudaram a semear. Quando a paz se estende por tempo demais e o povo deseja esquecer os horrores do passado, o guerreiro pode se tornar um fardo. Lembrança incômoda de um tempo violento, é muitas vezes empurrado às margens da sociedade. Antigos heróis tornam-se fantasmas — tratados como armas sem propósito, figuras deslocadas num mundo que já não os reconhece. Para esses, a luta continua: agora contra o esquecimento, contra o vazio, buscando um novo sentido para a força que um dia salvou reinos.

Assim é a posição do guerreiro na sociedade: reflexo direto do papel que assumiu na guerra. Pode ser celebrado como bastião da civilização ou temido como instrumento da opressão. Sua honra não reside apenas na lâmina que empunha, mas nas causas que escolhe servir. A guerra revela tanto sua força quanto as intenções do mundo que o comanda. E, no eco dos conflitos, é a memória de suas ações que dirá se seu nome será lembrado com orgulho — ou com temor.


Tentando escolher um caminho...


Caminhos do Guerreiro

Nem todo guerreiro empunha sua arma pelo mesmo motivo. Embora compartilhem a lâmina, a couraça e o sangue, cada um trilha um caminho próprio — moldado por sua história, suas escolhas e o peso que carrega no coração.

Alguns lutam por proteção: erguem o escudo não por glória, mas para manter os outros em segurança. São guardiões de vilarejos, companheiros fiéis, pais e filhos que se colocam entre o perigo e os que não podem lutar. Sua força nasce do amor, e seu combate é uma extensão do cuidado. Outros seguem o caminho da honra — não como vaidade, mas como fidelidade a um ideal. Lutam por justiça, por palavra dada, por princípios que nem a morte consegue apagar. A honra os guia quando tudo ao redor desmorona, sustentando suas escolhas como colunas de pedra no meio da tempestade. Há os que vivem pelo dever, respondendo ao chamado de seu rei, sua pátria, sua ordem. São soldados leais, homens de missão. Mesmo que não compreendam todas as causas, mantêm-se firmes, pois acreditam que servir é, por si só, uma forma de grandeza. E muitos buscam simplesmente a glória — a eternidade gravada em canções, brasões e estátuas. Desejam ser lembrados, aclamados, celebrados. Lutam para gravar seus nomes na história, para que seus feitos ecoem além da morte. Para eles, a guerra é palco, e a vitória, coroação.

Sempre existem aqueles que se entregam ao ouro. São mercenários, espadachins errantes, homens práticos. Não vestem ideais, apenas fivelas e moedas. Mas mesmo entre eles, pode haver coragem. Pois o valor da luta, às vezes, é medido pelo risco, não pela causa. Alguns escolhem a liberdade como ideal. Rejeitam mestres, bandeiras e correntes. Lutam para permanecer donos de si, para andar sem amarras por um mundo que insiste em prendê-los. Sua lâmina é a expressão de sua vontade, e sua causa, a própria vida. Outros, consumidos pela vingança, percorrem um caminho sombrio, pavimentado por perdas e marcado por cicatrizes profundas. Esses guerreiros não lutam por reinos nem por ideais, mas por rostos perdidos, por juras sussurradas diante de túmulos. Carregam o passado como arma — e só cessam quando o sangue pesa mais que a dor.

Não são poucos os que lutam por sobrevivência — nascidos em ruínas, forjados em escassez, endurecidos pela necessidade. Não conhecem luxo, só luta. Cada combate é uma tentativa de continuar respirando. São os filhos dos escombros, e sua força é a resiliência. Os guerreiros que se consagram à supremacia, são obcecados por aperfeiçoar suas habilidades. Não lutam por nada além do combate em si. Cada adversário é um degrau, cada duelo, um teste. Para eles, a guerra é arte e o corpo, o instrumento de um ofício implacável. Alguns trilham o caminho da rebelião. Recusam o mundo como ele é e empunham a arma contra aquilo que consideram injusto. Podem ser libertadores ou insurgentes, heróis ou traidores, depende de quem conta a história. Mas sua força nasce da recusa. 

Há ainda aqueles que lutam por redenção. Têm um erro no passado — uma covardia, uma traição, uma derrota vergonhosa — e buscam pagar a dívida com o próprio suor. A cada batalha, não enfrentam apenas o inimigo, mas a si mesmos. Outros combatem por razões mais etéreas, lutam em busca de um sentido maior. Para eles, a guerra é um caminho espiritual, um rito de passagem rumo à transcendência. Buscam iluminação, autoconhecimento, uma verdade escondida entre o aço e o silêncio. Vêem no combate um espelho da alma. E, por fim, existem os fantasmas, guerreiros que seguem lutando sem saber mais o porquê. Sobreviventes de tantas batalhas que se esqueceram de quem eram antes da guerra. Não têm causa, nem lar, nem paz. São vultos armados, sombras que caminham no campo de batalha à procura de um motivo que talvez nunca encontrem.


˅ Por que você luta?


Muitas arminhas

Identidade e Armas

Para o guerreiro, a arma não é apenas uma ferramenta — é parte de quem ele é. Muitos a veem como identidade, símbolo de sua classe, história e propósito. Um cavaleiro se reconhece pela espada; um lanceiro, pela ponta que avança primeiro; um arqueiro, pela corda que canta antes da morte. A lâmina certa, o peso exato, o desenho da guarda... a arma fala do guerreiro tanto quanto seu nome ou brasão.

Em muitos casos, essa relação vai além do símbolo. A arma se torna companheira, íntima e única, moldada pela mão que a empunha e marcada pelas batalhas que compartilham. Guerreiros experientes reconhecem sua arma ao toque, como se a alma do aço conversasse com a sua. Conhecem seus limites, seus caprichos e sua memória, como se empunhassem um velho amigo.

Existem aqueles que carregam armas que os transcendem: tesouros herdados, relíquias sagradas, símbolos nacionais. Nessas, repousa a memória de ancestrais, a bênção de deuses, o orgulho de um povo. Não são apenas armas: são legados. Esses guerreiros, a cada batalha, buscam se mostrar dignos da história que empunham. A arma os julga em silêncio e o mundo também. Pois quando um guerreiro falha, é o nome da relíquia que se mancha; mas quando triunfa, é como se o passado e o presente se unissem numa mesma lâmina. 

Outros não romantizam o aço que empunham. A espada, o machado, a lança — são apenas meios para um fim. Como o pedreiro maneja o martelo ou o caçador arma a cilada, esses guerreiros usam o que for necessário para cumprir sua missão. Se a arma quebra, pegam outra. Se a perdem, substituem. Não conversam com ela, não lhe dão nome, não sentem dor ao deixá-la para trás. A vitória importa mais que o instrumento. E quando a luta termina, a arma volta à bainha como um prego à caixa de ferramentas. Nada além disso.

Também são muitos que tentam transformar a arma em extensão do próprio corpo. Tal arte é fruto de esforço, disciplina e dor. O guerreiro treina até que o gesto se torne reflexo, até que o peso do aço desapareça na fluidez do movimento. Quando atinge esse ponto, já não há hesitação: o braço e a lâmina, o impulso e o corte, tornam-se inseparáveis. A arma deixa de ser algo que se segura — passa a ser algo que se é. Nesse domínio, a alma do guerreiro se estende pelo fio da espada.

Mas nem todo elo é glorioso. Há aqueles para quem a arma é fardo — lembrança de violências passadas, instrumento de um destino que não escolheram. Em suas mãos, o aço pesa mais que o ferro. Lutam não por vontade, mas por necessidade ou dever, e cada combate é também uma batalha contra si mesmos.


˅ Como você empunha sua arma?


Uma boa firula


Ordens Militares

Nem todo guerreiro caminha só. Ao longo da história, surgiram ordens, companhias e escolas que reúnem aqueles que se dedicam à arte da guerra sob um mesmo estandarte — seja ele um símbolo sagrado, um ideal comum, uma coroa ou um simples contrato.

Instituições militares e ordens reais existem para proteger reinos e manter a paz. São forças oficiais, treinadas e disciplinadas, com hierarquias rígidas e códigos de conduta, que se veem como guardiãs da estabilidade. Em tempos de ameaça, erguem muralhas, defendem fronteiras e garantem que a espada permaneça ao lado da lei. Dentro desses exércitos, o guerreiro é peça de uma engrenagem maior — respeitado, mas também moldado por regras, obrigações e tradições.

Há também companhias mercenárias, onde o contrato vale mais que a bandeira. Reunindo veteranos, renegados, idealistas ou pragmáticos, essas forças lutam por ouro, mas nem sempre carecem de honra. Algumas se especializam em estratégias, emboscadas ou em guerras prolongadas; outras, em reputação. Seus nomes circulam como lendas, temidos por uns, procurados por outros. Em seus acampamentos, a lealdade é comprada, mas a camaradagem pode ser sincera: forjada no fogo das batalhas, mesmo quando o motivo é alugado.

Nas escolas marciais, o foco é o aperfeiçoamento da técnica. Mestres transmitem estilos ancestrais, cultivam formas de combate refinadas e ensinam que a lâmina deve estar sempre a serviço da mente. Cada estilo carrega uma filosofia própria: alguns priorizam velocidade, outros, precisão; uns cultivam a serenidade, outros, a fúria canalizada. A admissão é dura, e a formação, longa. O guerreiro que sai dessas escolas carrega não apenas uma forma de lutar, mas uma forma de ver o mundo.

As ordens religiosas, por sua vez, veem na guerra um chamado divino. Seus membros empunham armas em nome da fé, protegendo relíquias, templos e peregrinos, ou levando a guerra aos inimigos espirituais. Lutam por dogmas e votos, guiados por escrituras e orações. A espada, nesse contexto, é consagrada; a morte, uma oferenda. Para eles, a disciplina é um rito, e cada batalha é parte de um desígnio maior, seja de purificação, penitência ou justiça sagrada.

Há ainda grupos menos organizados, mas não menos influentes: clãs de guerreiros, seitas de gladiadores, confrarias de duelistas. Algumas operam nas sombras, outras cobram caro por seus serviços. Todas, no entanto, compartilham uma verdade: quando homens armados se unem em torno de um propósito, moldam mais do que batalhas, moldam o mundo.

Cada ordem carrega seu brasão, sua causa, sua hierarquia, seus ritos e seus fantasmas. Algumas duram milênios; outras se desfazem após uma única derrota. Mas enquanto houver guerra, haverá aqueles que escolhem não lutar sozinhos, pois sabem que, mesmo entre guerreiros, é na aliança que a força encontra forma.


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Vitral do Carlinhos, o Magno


Legado da Espada

Nem toda vitória termina no campo de batalha. Para muitos guerreiros, o verdadeiro triunfo está no que permanece depois que a espada repousa. A ascensão de um guerreiro pode se dar em vida — pelo reconhecimento de seus feitos, pela liderança conquistada, pelos títulos recebidos. Mas o legado mais profundo é aquele que sobrevive à sua ausência.

Alguns têm seus nomes gravados em pedra: estátuas erguidas em praças, túmulos imponentes no centro de antigas cidadelas, muralhas onde seu brasão permanece como promessa de proteção eterna. São lembrados não apenas como soldados, mas como senhores ou mesmo reis. Cada monumento é mais do que uma lembrança, é um marco daquilo que foi preservado graças à sua coragem. Em cada escultura silenciosa, repousa a memória de um gesto decisivo, de uma vida oferecida em nome de algo maior.

Outros vivem em canções. Poetas e bardos tecem lendas sobre suas façanhas, transformando feitos reais em mitos imortais. Nessas histórias, o guerreiro enfrenta monstros, desafia reis injustos, resiste mesmo quando tudo parece perdido. Por vezes, a verdade se perde entre os versos, mas a inspiração permanece, acendendo a chama da coragem em corações que nunca o conheceram. Um nome cantado não morre.

Há ainda aqueles que plantam seus ideais em discípulos. Ensinam a luta, mas também o porquê dela. Transmitem valores, temperam o aço com virtude. Mesmo que o rosto desapareça da história, seus gestos sobrevivem nos que seguem seu caminho: cada espada erguida com honra é um eco do mestre que ensinou mais do que a matar. O legado se espalha como raízes invisíveis, sustentando gerações.

Alguns deixam uma linhagem. Seus filhos e netos herdam não apenas o nome, mas o sangue e o destino. Passam adiante armas que não são apenas ferramentas, mas relíquias carregadas de histórias, bênçãos ou maldições. Em muitos clãs, empunhar a espada do ancestral é carregar seu peso, não apenas o físico, mas o simbólico. Nesses casos, o guerreiro vive enquanto sua lâmina for usada com justiça.

Assim, o fim de um guerreiro nunca é absoluto. Se ele lutou por algo além de si, se sua vida foi um farol e não apenas um raio, então seu rastro permanece. Na pedra, na música, na carne, no espírito. A morte leva o corpo — mas o legado, esse é forjado para resistir ao tempo.


Guerra Interna

A espada pesa mais do que o aço permite. O corte que abre caminho também marca a alma de quem o desfere. Matar nunca é neutro, mesmo quando necessário, mesmo quando justo. A violência, por mais treinada ou justificada, deixa rastros que o tempo não apaga. Cada vida tomada impõe uma transformação: o guerreiro retorna do campo de batalha diferente do homem que partiu.

Muitos se firmam na tradição como âncora. Seguem códigos, mantêm a palavra, repetem os gestos dos antepassados como forma de preservar o que resta de sentido. Para eles, a honra é bússola — mesmo que o caminho esteja coberto de dor.

A lealdade ao senhor pode, com o tempo, tornar-se corrente. Quando os ideais do suserano deixam de refletir os próprios, surge o conflito: servir ou rebelar-se? Lutar pela palavra dada ou pela consciência desperta? Muitos sucumbem ao silêncio, optando por calar e suportar. Carregam o mundo nas costas, porque falar poderia quebrar o pouco que ainda sustentam.

A glória é um manto brilhante que esconde manchas. O orgulho pelas vitórias vem acompanhado da lembrança dos que caíram ao lado, companheiros, irmãos de armas, rostos que o tempo e a culpa tornam ainda mais vívidos. O guerreiro celebra a conquista, mas carrega também os fantasmas do que perdeu. A honra nem sempre traz paz.

Existem aqueles que se perguntam: qual é o seu lugar quando a guerra cessa? Alguns buscam abrigo na paz, se tornam andarilhos, senhores de terras desertas ou prisioneiros de suas memórias. Outros se perdem em saques, violência ou bebedeiras. Fora do conflito, o guerreiro pode se sentir deslocado, estranho em um mundo onde não há mais inimigos a enfrentar, apenas o próprio vazio. 

Há também os que não escolheram o caminho da guerra, foram moldados por ela. Filhos de clãs guerreadores, vítimas de tragédias, prisioneiros de expectativas ou promessas feitas por outros. Lançados ao combate por honra alheia, crescem entre o dever e a rejeição. Tornam-se guerreiros não por vocação, mas por sobrevivência.

Porque ser guerreiro não é apenas dominar a lâmina: é suportar o que ela exige.


Seu verdadeiro inimigo


A Sombra

Mas a guerra, por mais que transforme o mundo, não revela apenas a força do guerreiro — revela também suas rachaduras. A verdadeira sombra não está no campo de batalha, mas na alma daquele que empunha a espada. Quando a linha entre necessidade e desejo se apaga, quando a violência deixa de ser instrumento e se torna prazer, o guerreiro se perde. A lâmina que antes servia à justiça agora fere por hábito ou diversão. A honra, antes bússola, é descartada como peso inútil.

A queda moral nem sempre é repentina. Às vezes, é lenta, imperceptível, começa com uma ordem que não se contesta, com uma crueldade justificada, com uma vitória conquistada a qualquer custo. O guerreiro passa a medir seu valor apenas pela força e pelos corpos que deixa para trás. A glória se confunde com a sede de poder. O trono do senhor se torna objeto de cobiça. O comando vira vício.

Alguns se perdem sob uma máscara de virtude, escondendo o vazio interior por trás da disciplina. Seguem regras com rigor, praticam os ritos da honra, sustentam a postura firme e o olhar distante — não por clareza de propósito, mas para não encarar o abismo que cresceu dentro de si. E é nesse abismo que germina a crueldade. Não a crueldade impetuosa, mas a que brota da indiferença, fria, metódica e precisa. O guerreiro que perdeu o sentido também perde os limites. Sem algo verdadeiro a proteger, sua lâmina já não distingue inimigos de inocentes. Executa ordens, impõe disciplina, mata com uma serenidade que arrepia — e ninguém suspeita. Porque por fora, ainda parece inteiro. Mas por dentro, já não resta ninguém.

Também há aqueles marcados por traumas tão profundos que não conseguem mais retornar à vida comum. As cenas da guerra se repetem em seus sonhos, seus gestos, suas reações. Eles se tornam cascas endurecidas, prontos para atacar a qualquer som. Carregam nos olhos o que viram e no peito, o que fizeram. São guerreiros que voltaram vivos, mas não inteiros. O homem morreu, mas a fera sobreviveu.
Outros simplesmente não conseguem mais parar. A guerra os moldou tanto que já não sabem quem são sem ela. Tornam-se errantes, saqueadores, assassinos — homens que lutam não por um motivo, mas porque esqueceram como fazer qualquer outra coisa ou encontraram prazer na violência. Na ausência de propósito, abraçam o caos. E assim, o guerreiro que antes protegia pode tornar-se aquilo contra o qual um dia lutou. 

A sombra que o persegue não nasce apenas do inimigo, mas do interior, daquilo que ele escolhe ignorar, justificar ou aceitar. Porque a maior batalha do guerreiro nem sempre é contra o outro. Às vezes, é contra si mesmo. E nem todos vencem.