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segunda-feira, 20 de setembro de 2021

A Queda de Star Wars - Parte 4 - O Anti-Star Wars

 
 CONTEMPLEM!!! A QUEDA DE STAR WARS - O ANTI-STAR WARS
O último...

A partir desse tópico passarei a criticar a trilogia da Disney. Infelizmente, caro leitor, não irei fazer uma crítica completa. Não exija de mim limpar um estábulo repleto de merda com uma paleta de exame de fezes. Destrinchar os 3 filmes da trilogia expondo cada um de seus defeitos é algo que vai além das minhas forças, exigiria mais tópicos do que estou disposto a fazer, além de revisitar cada filme arriscando sucumbir a vontade de arrancar meus olhos e furar meus ouvidos. No entanto, isso tem um lado bom, pois irei me reter naquilo que ataca a franquia no âmago, dando ênfase a esses pontos, coisas que a maioria das críticas não fazem. Além disso, a internet já tem várias críticas que esmiúçam o roteiro, analisam cada personagem e expõe cada pedacinho de ativismo e panfletagem da nova trilogia. 

Então por onde começar? Não quero fazer arrodeio, então irei logo no âmago do problema: Os Últimos Jedi, The Last Jedi ou apenas TLJ. O filme que considero o matador da franquia. Veja bem... Apesar do TLJ conseguir  lucrar, ele foi um fracasso total! Não apenas lucrou menos que o esperado, como afundou outros produtos juntos com ele, obrigando a Disney a repensar seu trabalho e intervir no estúdio responsável. Não digo isso como argumento, mas sim para avisar que A Ascenção de Skywalker já foi concebido pra concertar a lambança. Então entenda que originalmente o plano do estúdio era seguir com a fórmula e resultados do TLJ, a desconstrução total da franquia. 

Eu chamo o Os Últimos Jedi de o Anti-Star Wars. O filme pode ter naves espaciais, sabre de luz e a força, mas em seu núcleo não é Star Wars. Pior que isso, ele faz uma subversão total daquilo que amamos em Star Wars, transformando em algo odioso e tentando nos vender como a obra dos nossos corações. Você pode não gostar da prequela, mas com todos os seus defeitos ela ainda conserva em si a essência da saga. No tópico anterior dessa série de postagens expus justamente essa essência, agora irei  expor as deformações feitas nela, ponto por ponto, por essa panfletagem ideológica disfarçada de película cinematográfica.  

Situação complexa :/

A Dicotomia como Elemento Fundante
Superficialmente o Anti-Star Wars parece conter toda a dicotomia clássica, afinal, o plano de fundo do filme continua sendo a guerra entre a aliança contra os remanescentes do império e a força também está lá, com seus jedis e siths. Mas, um espectador mais atento ou um fã com mais carga,  certamente sentirá algo de errado, infelizmente, a maioria deles não possuem as ferramentas técnicas necessárias para formalizar e sistematizar esse sentimento. Então vamos lá:

O Anti-Star Wars é marcado por cenas de ação dinâmicas ou melodramáticas que por si só não levam a reflexão. Em adição, o humor do filme é tolo e constantemente quebra a seriedade e tensão. Além disso, nenhum dos personagens principais emitem qualquer opinião de valor sobre o conflito galáctico. Mediante tudo isso, existe uma exceção.

O cracker, personagem de Del Toro, cujo objetivo é desligar o rastreador no destroyer imperial. Ele possui 2 cenas em especial que fogem totalmente do padrão do filme. Essas cenas são confeccionadas para passar uma mensagem direta e explícita para o espectador. São elas: (1) Quando o cracker conversando com Finn mostra que a elite rica vende armas para ambos os lados. (2) Quando o mesmo personagem trai Finn com a justificativa que independente do vencedor da guerra o "sistema" permanecerá o mesmo. Finn ainda tenta rebater Del Toro: "Não, não será assim...". Então a câmera enquadra Del Toro e ele solta: "Maybe", num claro gesto de call to arms.

Mas ora, a implicação desse argumento é que a guerra contra a Primeira Ordem é irrelevante, os dois lados são iguais, nada mudará no final. A dicotomia, a luta do bem contra o mal, além de toda política construída na prequela e também no universo estendido jogados no lixo, pois o Anti-Star Wars precisava passar a mensagem que o verdadeiro vilão, o verdadeiro mal, é uma caricatura de sistema ricamente caracterizado por ricos decadentes e imorais comerciantes de armas. Bravo! Eis o fruto do seu ativismo ideológico.  

Da mesma forma, a força retratada no filme apenas aparenta ser força que amamos, mas ela não passa de um simulacro vazio. Para entender melhor isso é necessário definir a força e a filosofia jedi conforme toda a tradição anterior da franquia.

A força é energia. A energia proveniente de todos os seres vivos e que conecta a tudo. Essa energia possui 2 lados em conflito um contra o outro: (1) o lado luminoso que advém do amor e compaixão para todos os seres vivos e (2) o lado negro que advém do egoísmo, sede de poder, ódio e medo. Nesse conflito no entanto, as armas do lado luminoso são a paz e compaixão, enquanto as do lado negro são o medo e violência. 

Os jedis acreditam que é possível alcançar e manter um estado de equilíbrio com a força, este estado se dá reconhecendo o lado negro e contendo-o através de rígida disciplina enquanto se dedicando ao lado luminoso através da abnegação, serenidade da mente e do serviço para os outros. É desta forma que os jedis conseguem canalizar os poderes do lado luminoso. Já os siths canalizam seus poderes entregando-se as suas paixões mais brutas. Eles são descomedidos e seu objetivo não é apenas dominar a galáxia, mas também fazer com que o lado negro domine-a, ou seja, dominar através da violência e terror e extinguir com qualquer equilíbrio.

Sobre o termo equilíbrio podemos concluir que: (1) a força possui um estado natural de equilíbrio que é o conflito constante do lado luminoso e negro, (2) o equilíbrio também pode ser entendido como um estado de disciplina no qual o jedi mantém sob controle seu lado sombrio evitando a corrupção, (3) os siths causam desequilíbrio a força de maneira não natural extinguir o lado luminoso. 

Agora no Anti-Star Wars:
 
  1. A força é definida como equilíbrio em si mesma. O filme dá ênfase a palavra equilíbrio através dos ensinamento de Luke, no entanto, não existe menção da disciplina jedi do auto-controle, nem do conflito do bem contra o mal. 
  2. No Império Contra Ataca, quando Luke entra na árvore em Dagobah, ele se depara com um lado sombrio sinistro e perigoso, explorando seus medos mais íntimos (se tornar como Darth Vader) e revelando o próprio interior do herói.
    Já no Anti-Star Wars, quando Rey entra na caverna do lado sombrio se depara com um truque qualquer de mágica, um salão de espelhos saído de um conto de espada e feitiçaria. A mágica revela que ela é a própria responsável por suas escolhas (a armadilha está montada), coisa que a personagem não entende no momento. O interior de Rey não é revelado, pois este é um personagem oco. Não existe nenhum esforço ou desafio para se obter essa informação. O lado sombrio não é retratado como sinistro, sedutor e perigoso.
    A tentação do lado negro, conceito fundamental, chave narrativa e joia estética, jogado fora. O único que saiu com medo da caverna fui eu, prevendo a palhaçada que viria depois.
  3. Rey luta parecendo uma fera selvagem, sempre com alguma expressão de raiva no rosto, bem diferente da serenidade dos jedis e do conceito de equilíbrio estabelecido pela ordem.
  4. A cereja do bolo é a cena na qual Kylo Ren oferece a mão e o império pra Rey. Embora toda situação remeta as sagas anteriores, ela não passa de uma farsa barata. Anakin e Luke, os verdadeiros Skywalkers, são de fato tentados pelo lado negro. A história dos 2 é trabalhada para que ao chegar o momento do aliciamento eles se sintam seduzidos a sucumbir. No entanto, para Rey, esse momento é apenas uma escolha.
    Mas porque é uma escolha? O próprio filme explicitamente propõe essa afirmação. Aqui voltamos para o ponto 2, para caverna de espelhos, para armadilha. O propósito da caverna de espelhos era ensinar a Rey que ela teria que realizar suas escolhas sozinha, assim a lição final está completa! Ela toma sua decisão e CUMPRE o que foi designado pelo LADO SOMBRIO da força.
É clara a intenção dos responsáveis do filme de distorcer o conceito da força. Nem mesmo precedentes do universo expandido como os "grey jedi" que não aderem com tanto rigor o código jedi são hereges a ponto de adotar uma visão pró lado negro. A obra realmente sugere a criação de um novo caminho de entendimento da força.

O resultado final é que o Anti-Star Wars com suas ênfases e omissões faz um elogio ao lado sombrio. A força não expressa dicotomia, nem possui características morais. A única filosofia evidenciada é o relativismo.     

Os 3 Planos da Narrativa
Como foi dito anteriormente Star Wars possui 3 planos de narrativa: (1) o conflito galáctico, (2) o conflito interno do protagonista, (3) a equipe principal. Agora no Anti-Star Wars a protagonista não passa por conflito interno nenhum.

Na trilogia original os medos de Luke são expostos na árvore de Dagobá. Ele é tentado e torturado por seu pai. Ele ver seus amigos sendo aniquilados pelo imperador. Mas não sucumbe, não se deixa dominar pela raiva e encarna a esperança confiando na vitória dos seus aliados e na redenção de seu pai. Já na prequela Anakin come o pão que o diabo amassou. Ele não se adapta a ordem jedi já decrepita que ensina a abnegação total e a supressão dos sentimentos. Ele perde sua mãe assassinada pelo povo da areia e depois cai perante o ódio realizando um massacre. Ele desenvolve o medo de perder sua amada Padmé e isso o corrompe definitivamente para o lado negro. Por fim, tem sua tragédia consumada ao matar Padmé por ciúme de forma equivocada.

No Anti-Star Wars Rey não é tentada, a ela é dada apenas uma escolha. Rey não passa por um processo de conflito, ela passa por um processo de 🌷 autodescoberta 🌷. 

A Jornada do Herói
A jornada do herói é uma receita, mas segui-la não garante o sucesso de uma obra, depende da execução e o Anti-Star Wars falha na sua execução. Isso ocorre pelo excesso de poder dado a Rey na sanha panfletaria de criar um arquétipo gonzo da empoderada. Na prática o que ocorre é a sensação de que os desafios de Rey são irrisórios e a personagem não cresce no desenvolvimento de sua história pois ela já capacidade para superar tudo. Irei dedicar um tópico no futuro para destrinchar a personagem com ferramentas literárias.

Duro golpe!

Épico Espacial
Para uma obra ser épica é necessário uma boa execução artística. O épico não é definido pela grandeza de escala, mas na grandeza de espírito. O Anti-Star Wars novamente falha na execução do épico e falha miseravelmente. Isto se dá por 3 pontos: (1) humor, (2) zombaria e (3) insignificância. Vamos discutir cada um desses pontos.

  1. Humor: A primeira cena do Anti-Star Wars, no qual Poe Dameron faz uma pegadinha com o general Hux, já revela os rumos do filme, uma obra grotesca, recheada de humor marvel mal colocado. Obviamente eu gostaria de ver humor em Star Wars, no entanto, a direção foi incapaz de entender que este não é um filme de super-herói descompromissado. A grande maioria das cenas de humor são ridículas e servem apenas pra desconcentrar e quebrar a tensão. Entre outras maravilhas dessa obra prima estão: Finn no traje de recuperação, Luke bebendo leite de alien e Kylo sem camisa. 
  2. Zombaria: Para um épico ser construído é necessário personagens dignos, tanto no lado dos heróis como dos vilões. No entanto, o Anti-Star Wars zomba e priva de dignidade vários de seus personagens (ou melhor, todos os personagens masculinos). Eles são incompetentes, os mocinhos carecem de heroísmo, os vilões não são terríveis, a credibilidade é arruinada. Ações épicas não nascem a partir de galhofa, uma animação temática do pateta seria melhor sucedida do que este filme. O pior é que todos estes personagens possuem conceitos interessantes que são destruídos:
    • Poe Dameron: Poe é um piloto de caça X-Wing, ícone da franquia original. Seu objetivo é encarnar a coragem, a audácia e a impetuosidade. Porém no Anti-Star Wars ele é capado o tempo todo. Todos seus atos audaciosos dão errado, ele é repreendido e no fim abandona sua impetuosidade.
    • General Hux: Um personagem que poderia incorporar uma disciplina fria e cruel através de  uma estética aristocrática reduzido a um bobo da corte na primeira cena. Sim, o general que deveria representar toda capacidade da Primeira Ordem feito de abestalhado na primeira cena! Como respeitar os antagonistas?
    • Kylo Ren: O neto de Darth Vader que se inspira no seu avô e ainda por cima possui um capacete irado. Outro conceito bom desperdiçado. As crises de chilique de Kylo Ren lembram os filmes de vergonha alheia de Ben Stiller.
    • Finn: Negros de Star Wars sempre foram casca grossa, personagens para se tirar o chapéu; Lando e Mace Windu mandam beijos. Quando assisti o trailer do primeiro filme, minha expectativa com Finn foi as alturas, seu conceito era extremamente interessante, um ex-stormtropper negro fugindo do Império. Infelizmente, de casca grossa Finn não tem nada e no Anti-Star Wars ele é reduzido a alívio cômico.
    • Luke Skywalker: O show de horrores alcança seu auge com a forma que Luke é tratado. Na trilogia original Luke nunca tem superioridade de poder contra seus algozes. Pelo contrário, não falta momentos em que ele está a mercê do imperador ou de Darth Vader. no entanto, ele supera seus desafios através da virtude, ele é a encarnação da esperança, é a Nova Esperança, que não desiste do seu pai, inspirando-o a redenção. No Anti-Star Wars, Luke é um velho amargurado que desistiu do próprio pupilo (reforçado na cena em que ele encara Kylo no final), o total avesso do que ele representou na trilogia original e para somar com isso, ele também é alvo de chacota das constantes piadinhas marvel. Não poderia ter zombaria maior.
  3. Insignificância: Quando acabei o Anti-Star Wars meu pensamento foi que se o filme fosse uma campanha de RPG o mestre seria um merda! As ações e decisões dos heróis são sem sentido, insignificantes, não geram impacto no mundo. Mesmo após vários planos esdrúxulos a frota rebelde é reduzida de várias naves a um punhado de gente que cabe na Millennium Falcon e ainda por cima, a galáxia os abandona não socorrendo-os no momento de necessidade (e os rebeldes acabam o filme comemorando, vai entender...). O roteiro do filme é de um sadismo incompreensível, derivado da falta de entendimento do Império Contra-Ataca. Mas vamos ponto à ponto.
    • Poe Dameron: Comanda um ataque e encabeça um motim para nada. A única coisa que ele faz é seguir uma raposa. Muito épico da parte dele.
    • General Holdo: A caricatura de feminista é permitida a se sacrificar (numa manobra sem pé nem cabeça), mas mesmo assim, seu sacrifício é em vão. Apesar de destruir o encouraçado, tanto Hux como Kylo sobrevivem pra montar um ataque gigantesco contra os sobreviventes, reduzindo-os a migalhas.
    • Finn: Finn é totalmente irrelevante pra trama principal, seu maior feito é derrotar Phasma, personagem importante apenas em seu próprio arco. Quando finalmente Finn vai se sacrificar, se justificar e o filme colabora criando tensão, tam-dam! Rose, impede o ato heroico brochando-o mais uma vez.
    • Luke Skywalker: Há quem diga que Luke se sacrificou... mas uma análise mais técnica mostra que Luke foi sacrificado. Mataram Luke para abrir caminho para Rey e fizeram isso de forma magistralmente ruim. A cena da morte é uma piada. Kylo Ren dá um escândalo após derrotar a miragem do Jedi que estava seguro em sua ilha e então, de novo, tam-dam! Luke morre por exaustão. Mas depois de Finn, a narrativa já tinha perdido a credibilidade e o fato não espantou nem um pouco. Porém o problema é menos a morte de Luke, mas sim a destruição de seu legado. A ingerência da Disney, fez com que o esforço de todos os personagens da trilogia original perdesse o sentido, mas Luke é a manifestação maior dessa falha. Todos gostaríamos de ver Luke como o sábio jedi com seu sabre verde e sua nova ordem, no entanto roubaram de Luke suas vitórias do passado, suas conquistas e seu simbolismo, ele foi massacrado. Tornaram os feitos da trilogia original insignificante.
Para a construção de um épico é necessário dignidade, bravura, sacrifício e impacto no cenário. O Anti-Star Wars não tem isso. É uma falha artística de espíritos pequenos e nada épicos.      

O Cenário
Como falei, o cenário não faz parte da minha crítica. Ainda existe incoerências que poderiam ser levantadas, porém a sistematização exige que eu me retenha essência. 

O Resultado Final
Aqui mostrei por A + B que o The Last Jedi é um Anti-Star Wars, ele não possui a essência da franquia... é o próprio matador da franquia. Um verdadeiro fã de Star Wars tem o dever de repudiar esse filme (mas isso é assunto pra posts futuros).

A tarefa de criticar a nova trilogia é hercúlea. Que fique claro que ainda existem muitos pontos que gostaria de atacar em The Last Jedi, ignorar isso, chega a dar urticária, porém a crítica fica mais forte e concisa desse modo. O próximo tópico da série vamos voltar para o primeiro filme e analisar a Rey. 

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